Imagine a cena: dezoito elefantes numa arena, “lutando” contra diversos homens indefesos e desarmados. O espetáculo, promovido por Pompeu Magno, não era apenas uma demonstração de brutalidade, mas de um ego inflado até o limite da insanidade. Pompeu, um dos maiores generais e políticos da Roma Antiga, não se contentava apenas com vitórias no campo de batalha. Ele precisava do aplauso ensurdecedor da multidão, da admiração cega, do espetáculo grotesco que reafirmasse seu poder.
Em vez de simplesmente executar aqueles homens — o que já seria terrível —, Pompeu quis inovar. Ele queria que a morte fosse teatral, que o povo se deleitasse com o horror. Uma mente minimamente sã se sente desconfortável só de imaginar a cena. E, no entanto, a plateia aplaudia, se emocionava, vibrava.
Esse é o efeito da fortuna sobre muitas mentes humanas: cega, entorpece, faz com que o poder e o dinheiro transformem homens em monstros. Fama, poder e riqueza são os deuses que a maioria dos humanos deseja servir. Mas poucos, pouquíssimos, possuem estrutura para lidar com tudo isso sem se perder.
A história está repleta de exemplos de pessoas que, ao alcançarem o topo, perderam qualquer resquício de humanidade. Nero incendiando Roma para compor uma epopeia. Luís XIV se afogando em luxos enquanto o povo morria de fome. Hitler arrastando o mundo para a guerra por suas ambições doentias. O poder não corrompe por si só, mas revela quem o detém.
E não precisamos ir tão longe. Basta olhar para o presente. Quantos empresários, políticos e celebridades não se comportam como deuses modernos, inalcançáveis, acreditando que o mundo gira ao redor de seus umbigos? Grandes magnatas manipulam mercados financeiros com simples declarações públicas, enquanto seus funcionários enfrentam jornadas exaustivas e salários ridículos. Políticos corruptos desviam bilhões enquanto hospitais colapsam e escolas caem aos pedaços. Bilionários exploram mão de obra barata em países pobres para aumentar suas margens de lucro, sem qualquer consideração pela dignidade humana.
O que vemos hoje não é muito diferente do que se via na Roma Antiga: espetáculos de poder, jogos de influência, demonstrações de força e riqueza enquanto o povo é deixado para trás. A sede de poder é insaciável. Quem o alcança raramente deseja largá-lo. Assim, muitos cometem atos vergonhosos para se manterem no topo: mentem, manipulam, destroem reputações e até vidas. Para essas mentes cegas pela fortuna, o ser humano é apenas um meio para a conquista de um fim. Pessoas se tornam peças em um tabuleiro, descartáveis quando já não servem ao propósito de alimentar o império pessoal de seus superiores. Tudo gira em torno da manutenção do poder, mesmo que isso custe a destruição de incontáveis vidas.
Um provérbio bastante popular diz: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. O problema é que a responsabilidade exige maturidade, algo que poucos desenvolvem antes de alcançarem o sucesso. O resultado? Uma sucessão de desastres humanos, guerras, exploração, arrogância e desperdício.
Mas há algo de irônico na história: o mesmo destino que exalta, destrói. Pompeu, o grande general, o homem que acreditava estar acima de tudo e de todos, encontrou um fim nada glorioso. Fugiu para o Egito em busca de refúgio e proteção. Mas lá, foi traído. Assassinado brutalmente, teve sua cabeça decepada e entregue a Júlio César como um presente. O homem que gostava de assistir à morte alheia terminou seus dias como um mero troféu nas mãos de outro.
O que a fortuna dá, a fortuna tira. E quanto mais alto se sobe, maior a queda. Porque o poder sem consciência é uma ruína iminente. E a história nunca esquece aqueles que, embriagados pela própria grandeza, acham que podem escapar do destino que impuseram aos outros. No fim, todos caem.
“O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda.” (Provérbios 18:12)
— Alessander Raker Stehling
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