“Seja forte como um leão, prudente como uma serpente, e não haverá obstáculo que não possa ser ultrapassado e meta alcançada!”
A frase acima é muito bonita, positiva e forte; é dita regularmente em palestras motivacionais, imersões, e em reuniões empresariais. O objetivo é a luta, sobretudo contra si mesmo, a superação de si, a busca por desempenho, metas e sucesso.
Precisamos ser “pau pra toda obra”, o bom funcionário é aquele que faz o trabalho de dez pessoas, o que não nega serviço e “veste a camisa da empresa”. Na entrevista de emprego já perguntam: “Você é pró-ativo e disposto?” Obviamente estamos dispostos a fazer de tudo, “pois emprego tá difícil”, nos entregamos por inteiro, doamo-nos integralmente.
Temos de ser multitarefa, esse é o lema pós-moderno. Isso está tão impregnado em nossa cultura que nem nos questionamos mais. Nossa atenção é rasa e horizontal: não é incomum fazer o almoço, mexer no celular, ouvir música no Spotify e ainda conversar com alguém, tudo isso quase simultaneamente.
Nisso agimos como animais selvagens, que não tiram tempo para relaxar, para aprofundar em nada. Estes comem rapidamente, apenas engolem os nacos de carne sem sentir o sabor, pois estão preocupados em não ser comidos, com os filhotes, com os outros do grupo…, a mente deles não para um segundo.
Nietzsche, como um profeta, previu esse comportamento na civilização do futuro — a nossa — e sugeriu “fortalecer em grande medida o elemento contemplativo”, que sem dúvida nos difere dos outros animais.
O ser humano é o único animal que pode passar horas refletindo sobre si, sobre a existência, que visita museus, pinacotecas, e se emociona diante da arte. Esse mergulho contemplativo, tão raro na atual sociedade rasa, mecânica e super ocupada, é um elemento fundamental para a maior satisfação na vida e relações interpessoais.
Enfim, a busca pós-moderna excessiva por autossuperação e desempenho é um retrocesso. Ela apenas desperta nosso lado selvagem, distancia-nos uns dos outros, de nossa humanidade, e tem nos levado ao aumento do burnout, depressão, e transtornos psicológicos.
— Alessander Raker Stehling
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