Você sabe escutar ou é apenas um ouvinte?
Sejamos honestos, escutar é o que as pessoas menos fazem hoje em dia. Estamos tão focados em nossos celulares, como que com medo de perder alguma novidade importante, que acabamos ignorando totalmente a pessoa sentada ao nosso lado. Inclusive, alguns indivíduos ficam tão apegadas ao celular, com esse medo descrito anteriormente, que desenvolvem uma doença, a FOMO: Fear of missing out (Medo de ficar de fora) que tem como principal sintoma a ansiedade extrema.
A verdade é que: hoje em dia é cada um por si e f$%#-se o resto. O senso de importância individual está hiper-elevado e, é exatamente por isso que a escuta é tão importante. Veja bem, minha primeira pergunta foi: você sabe escutar ou é apenas um ouvinte? Peraí, mas qual é a diferença entre uma coisa e outra? Talvez tenha essa dúvida e, vamos falar disso agora.
Voltemos ao exemplo do celular acima (para fins didáticos): Se estamos atentos ao celular enquanto alguém está falando, podemos perceber os sons das palavras e seus significados. Isso é ouvir, ou seja, perceber os sons ao redor. Agora, escutar, no mesmo exemplo acima, seria deixar o celular de lado, ou no silencioso, enquanto prestamos total atenção, tentando entender o que está sendo dito.
E por falar em escuta de qualidade, nada melhor que aprendermos com o sábio psicanalista J. -D Nasio (o que falarei a seguir está registrado em seu livro “Sim, a psicanálise cura”, mas não irei transcrever o que ele disse, antes, resumirei e adaptarei). Bora aprender a escutar com esse mestre da psiquiatria/psicanálise?!
Para Nasio a escuta é um processo de 5 etapas (nas falas abaixo você poderá trocar “paciente” por “pessoa” e “terapeuta” por “ouvinte”, isso é útil não apenas para terapeutas, por isso trouxe este conteúdo para todos):
1 - Observação
Nesta etapa o terapeuta observa atentamente o comportamento e a atitude do seu paciente (abaixo explicarei mais sobre isso)
2 - Compreensão
Segundo Nasio, quando o paciente fala, o terapeuta tenta compreender o sentido latente das palavras e das atitudes observadas. Dito em outras palavras: quando alguém fala, devemos observar atentamente suas expressões faciais, corporais e o que essa pessoa realmente quer dizer, mas talvez não consiga, por não encontrar palavras para tal. Tente escutar o que está por trás das palavras.
3 - A escuta de fato
Nesta etapa o terapeuta escuta plenamente, o inconsciente de ambos se comunicam, como ele mesmo diz: se “imbricam”. Essa escuta profunda entre inconscientes é complexa, pois para ouvirmos alguém assim temos de estar bem regulados internamente, não podemos reagir ou levar pro lado pessoal. De forma alguma ser afetados pelo que o outro diz e nem julgá-lo. Obviamente que, para se conseguir chegar nesse ponto, a pessoa tem que passar por muita terapia, essa habilidade de escuta profunda não é algo que vemos facilmente no dia a dia. Porém, tem um lado bom nesta etapa: se você sentir que está incomodado com o que o outro está falando, com vontade de responder rapidamente, ou julgá-lo, então, existe algo em você que precisa de atenção. Anote isso e leve para sua terapeuta.
4 - Identificação
Aqui, o terapeuta sente não a emoção que o paciente sente no momento em que fala, mas a velha emoção traumática que este sofreu e reprimiu. Exemplifiquemos, pois o objetivo é ajudarmos não apenas terapeutas: uma jovem nos conta que está muito magoada e com raiva do seu namorado, que só fica no videogame. Mas se a escutarmos a fundo, perceberemos que ela queria apenas a atenção e o carinho dele. Na realidade, a moça se sente abandonada, sem valor e carente — isso poderá inclusive ter relação com a infância dela.
Temos de identificar o que a pessoa REALMENTE quis dizer, ou sentiu. Talvez nem ela esteja ciente disso.
5 - Interpretação
Agora o terapeuta comunica ao paciente a emoção que experimentou durante a identificação. Essa expressão do que sentimos alivia o paciente e orienta a sua cura. Resgatemos o exemplo acima. Poderemos dizer à moça — que está p$#% com o namorado — assim: “Você, no fundo, gostaria mesmo era da atenção e carinho do seu namorado, que só fica no videogame?” “É isso mesmo, como você adivinhou?” talvez ela diga surpresa.
Veja que: a escuta é uma arte e, bastante complexa para ser honesto. Chegar neste nível avançado é para poucos. No entanto, independentemente de você querer ou não ser um “mestre Jedi da escuta”, uma coisa é certa, ninguém gosta de se sentir ignorado enquanto fala.
O melhor conselho talvez seja esse: faça com os outros o que você gostaria que fizessem com você. Simples assim.
Um forte abraço.
— Alessander Raker Stehling
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