Dizem que você pode aprender por amor, ou pela dor. Se você teve cuidadores amorosos na infância, creio que aprendeu muito com eles. Aprendeu talvez a dar atenção às sensações do próprio corpo, e que pode contar com o apoio deles em momentos difíceis. Aprender por amor nos poupa de muitas dores, mas nem sempre evitá-las é possível, e em muitos casos, precisamos quebrar a cara para tirarmos lições - e olhe lá.
Imagino que deva se lembrar de algum momento em que divergiu da sua mãe: gritou, brigou, esperneou, não seguiu seus conselhos, e se lascou. Daí ela talvez tenha dito: "Tá vendo, eu avisei, não quis me ouvir...." Por mais que ela amorosamente tivesse lhe avisado das consequências, foi necessário que você fizesse do seu jeito, que sofresse e desse errado para que pudesse aprender.
Quando amamos muito uma pessoa, desejamos que nada de ruim lhe aconteça. Muitos até dizem que se pudessem dariam a vida pelo outro, só para não o verem sofrer e chorar, contudo, não é sábio pensar assim.
Cada um precisa seguir o seu próprio caminho pedregoso. Por mais que na sua mente tudo esteja tão cristalino, como as águas de Arraial do Cabo, na mente do outro as coisas podem não estar tão claras assim. Ele precisa fazer as coisas do seu jeito, quebrar a cara, para depois "conectar coisa com coisa" e perceber a burrada que fez.
Muitas vezes os pais, com boas intenções, dizem: "Vou fazer de tudo para que o meu filho não passe pelo sofrimento que eu passei." Imaginam que agindo assim estarão sendo amorosos, mas quem diz isso, talvez se esqueça que foram tais momentos difíceis que o levaram aos maiores aprendizados e transformações na vida. Se não permitimos que um filho, ou alguém que amamos, passe por fracassos e sofrimentos, também estamos impedindo-os do crescimento e transformando-os em eternas crianças: dependentes e fracas diante da vida.
Por fim, parece desamoroso, cruel e maldoso deixar o outro sofrer, mas se olharmos para nós mesmos - se isso acontecer dentro de um certo limite - perceberemos que os aprendizados que ocorreram na dor e sofrimento também foram, e são muito importantes.
- Alessander Raker Stehling
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