“Cada um dá o que tem.” Essa frase, embora clichê, carrega uma verdade profunda. Afinal, como alguém pode oferecer o que nunca experimentou ou cultivou? Um homem criado em um lar amoroso, onde o afeto era o idioma principal, geralmente tende a repetir essa linguagem nos seus relacionamentos. Já aquele que cresceu em um ambiente agressivo e negligente, muitas vezes luta para romper o ciclo e construir algo diferente, mas, se não houver um esforço consciente, acabará perpetuando o que conhece. Nossa bagagem emocional dita o tom de nossos relacionamentos.
Todos nós queremos o melhor. Não faltam listas de atributos desejáveis — gentileza, empatia, equilíbrio emocional, inteligência, bom humor, beleza, sucesso profissional, paixão, autenticidade... O rol de características desejadas cresce a cada dia, principalmente nas redes sociais, onde vemos publicações do tipo: “Não aceito menos que isso!” ou “Procuro alguém que seja X, Y e Z.” E, claro, quanto mais "qualidades" uma pessoa aparenta ter, mais interessados surgem. Mas a grande questão, que a maioria prefere ignorar, é: E você, o que está oferecendo? É um bom partido?
Parece haver um abismo entre o que muitos exigem e o que estão dispostos a oferecer em contrapartida. Não é raro ouvir: “Está difícil encontrar um relacionamento saudável, ninguém quer compromisso!” Esse desabafo contém uma verdade, sim — nossa sociedade líquida, como bem diagnosticou Bauman, vive o culto do prazer imediato e das conexões superficiais. Mas, ao mesmo tempo, é verdade também que muitas pessoas ainda anseiam por algo mais profundo, buscam amar e serem amadas de verdade. O problema é que essas mesmas pessoas, que tantas vezes reclamam da falta de “bons partidos”, são, elas mesmas, péssimos parceiros. Não têm a menor estrutura para sustentar uma relação saudável — mas insistem em querer uma.
O erro, muitas vezes, não está apenas na escolha do parceiro, mas na recusa obstinada de olhar para si. Um exemplo simples é o mundo dos negócios: quando um empreendimento fracassa, imediatamente surgem análises para entender o que deu errado. O objetivo? Não repetir os mesmos erros no próximo investimento. Mas, quando falamos de relacionamentos, a história muda. Poucos estão dispostos a encarar com sinceridade suas próprias falhas e padrões tóxicos. É mais fácil culpar o outro, negar a própria responsabilidade e seguir, hipocritamente, reclamando de como “ninguém presta”.
Rubem Alves dizia: “Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si.” Essa frase revela a verdade mais crua e desconfortável sobre nossos relacionamentos: o que atraímos, aceitamos e ofertamos reflete o que carregamos internamente. Se buscamos uma relação saudável, amorosa, respeitosa e honesta, precisamos, antes de qualquer coisa, cultivar essas qualidades em nós mesmos. Não há truque, fórmula mágica ou atalho. Enriquecer o próprio interior é o único caminho.
Portanto, a pergunta que realmente importa é: O que você está fazendo para ser a pessoa que tanto deseja encontrar? Porque, no fundo, é uma questão de coerência. Todos queremos o melhor para nós, mas será que estamos dispostos a ser o melhor para o outro?
— Alessander Raker Stehling
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