Quantas pessoas você conhece que sonhavam em ser artistas, mas hoje passam os dias aprisionadas em escritórios que detestam? Que amavam pintar ou cozinhar, mas foram convencidas de que “isso não dá dinheiro” e seguiram carreiras frustrantes? Quantas já quiseram estudar filosofia, sociologia ou música, mas desistiram porque “não dá futuro”? E quantos, ainda hoje, frequentam religiões em que não acreditam, reprimem a própria sexualidade ou sustentam um status que não os representa, apenas para serem aceitos?
E aqueles que amam dançar, desenhar, viajar, mas sempre encontram desculpas para não fazer o que realmente os faz felizes? Quantos se obrigam a viver de um jeito que não desejam, apenas para corresponder às expectativas alheias? A verdade é que, desde cedo, aprendemos a reprimir nossos desejos mais autênticos.
Na escola, a dúvida é silenciada, a arte descartada, o prazer censurado, a espontaneidade punida. Assim, nos tornamos adultos que duvidam de si mesmos. Queremos uma coisa, mas escolhemos outra. Desejamos liberdade, mas tememos as consequências. E o medo nos paralisa. Medo do julgamento, medo do fracasso, medo de sermos vistos como “os diferentes”.
Ferenczi estava certo: a sociedade é neurótica — mas não por um simples desajuste individual. Somos educados para isso. Desde cedo, aprendemos a obedecer sem questionar, a nos moldar às expectativas alheias, a acreditar que nossos desejos não têm valor — que querer algo para nós mesmos é egoísmo. Crescemos com uma ferida aberta: a incapacidade de confiar em nós mesmos. E assim, nos tornamos adultos angustiados, tentando preencher um vazio que nem sabemos nomear. O resultado? Depressão, ansiedade, crises existenciais, fobias, compulsões. Quanto mais negamos nossa verdade interior, mais adoecemos.
O remédio para essa neurose social não está em fórmulas prontas, mas em um mergulho profundo no que somos. Como Ferenczi afirmou, precisamos explorar a totalidade da nossa personalidade, incluindo tudo o que foi reprimido. E essa exploração passa, necessariamente, pelo inconsciente. Os traumas, as crenças que nos limitam, os desejos que abafamos — tudo isso está lá, esperando para ser olhado com honestidade.
Mas não basta curar os indivíduos. É preciso transformar o sistema que os adoece. A prevenção começa na infância. Uma pedagogia verdadeiramente libertadora — que, infelizmente, ainda é privilégio de poucos — precisa ensinar autoconhecimento, não obediência cega. Precisa formar indivíduos que se compreendam, que saibam nomear seus desejos e emoções, que aprendam a usar suas habilidades construtivamente. Isso não significa criar pessoas egocêntricas e indiferentes, mas sim indivíduos que, por conhecerem sua própria natureza, consigam viver de forma mais autêntica e equilibrada.
Se toda a sociedade é neurótica, isso significa que a neurose não é apenas um problema pessoal, mas um sintoma coletivo. O erro não foi sentir essa angústia. O erro foi aceitá-la como inevitável. Mas agora que enxergamos isso, temos uma escolha. Vamos continuar sufocados ou finalmente ousaremos respirar?
— Alessander Raker Stehling
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