— Eu não queria vir à terapia hoje. Fiquei a semana toda pensando naquilo que me disse quando peguei o lenço — disse Ana, fixando os olhos no tapete.
— O que me ouviu dizer, Ana?
— Que você estava cansado das minhas reclamações e de eu não aceitar a sua ajuda.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
— O que me lembro foi algo bem diferente. Você estava chorando, e eu tentei te dar conforto estendendo a caixa de lenços. O que me chamou a atenção foi a rapidez com que você a pegou, como se quisesse evitar minha ajuda. Mas nunca disse que estava cansado de você.
Ana balançou a cabeça lentamente, mordendo o lábio inferior.
— Eu sei… Acho que é coisa da minha cabeça. Tenho dificuldade em aceitar ajuda. Fico pensando que, se eu aceitar até as pequenas coisas, uma hora você vai se cansar de mim.
— Você acha que existe um limite para a ajuda que posso te oferecer?
— Não sei… Talvez… É difícil confiar que alguém vá ficar por perto quando já me deixaram tantas vezes.
— Parece que essa angústia de ser abandonada te acompanha sempre, como uma sombra.
Ela levantou os olhos para mim, com lágrimas começando a se formar.
— É exatamente isso. Parece que tem algo quebrado dentro de mim, como se eu estivesse sempre esperando o momento em que as pessoas vão embora.
— Quem foi embora, Ana?
— Meu pai, primeiro namorado, melhor amiga. Até meu sobrinho, que me chamava de dindinha, mudou comigo. Não dá para confiar nas pessoas. Dói demais. Prefiro me virar sozinha.
Olhei profundamente nos olhos de Ana e, pela primeira vez, vi uma garotinha tão indefesa, tão sozinha…
— Ana, eu entendo que, para você, parece mais seguro se fechar e evitar o risco de confiar. Mas me diga: viver assim, se virando sozinha, tem te trazido paz?
Ela abaixou os olhos lentamente.
— Não. Só me faz sentir mais sozinha.
— Sabe, Ana, a dor do abandono não é culpa sua. Não é algo que você causou ou que poderia ter evitado. O que as pessoas fizeram diz mais sobre elas do que sobre você. Mas carregar isso, como se fosse uma prova de que você não é digna de amor ou apoio, é uma injustiça que você comete contra si mesma.
Ela me olhou, os olhos brilhando com uma mistura de tristeza e esperança.
— Mas como eu largo esse medo?
Inclinei-me ligeiramente para frente e, calmamente, falei:
— Soltar o medo não significa que ele vai desaparecer de repente. Significa começar a arriscar, aos poucos, mesmo sentindo medo. Aqui, neste espaço, você pode testar isso. Eu estou aqui, Ana. Não para abandonar você, mas para caminhar ao seu lado.
Ela mordeu o lábio novamente, dessa vez tentando conter um choro mais forte.
— É difícil acreditar…
— Eu sei que é. Mas olha só o que você já fez hoje: você veio, mesmo querendo ficar em casa. Você falou, mesmo com medo de não ser ouvida. Isso é coragem, Ana. Não é sobre apagar a dor do passado, mas sobre construir algo novo, mesmo com ela.
Ela baixou a cabeça, respirando fundo, deixando as lágrimas correrem livremente.
— Sabe, eu só queria sentir que sou suficiente… Me esforço tanto para gostarem de mim.
— Ana, você já é suficiente. Sua dor não te torna menos digna de amor, e seus medos não te fazem fraca. Sua presença no mundo, mesmo cheia de feridas, é um presente.
Ela soluçou, mas não desviou o olhar. Parecia profundamente interessada no que eu iria dizer.
— E se você deixasse de lado essa ideia de que precisa ser perfeita para os outros? E se permitisse apenas ser você, exatamente como é?
Ela olhou para mim, com lágrimas de esperança.
— Talvez… talvez eu possa tentar.
— Entendo seu medo, mas estou contigo. Ao longo do caminho, vai perceber que o amor que você tanto busca começa com o mais importante de todos: o amor por você mesma.
Naquele momento, percebi um lindo sorriso em seu rosto, tímido, mas genuíno. Um sorriso que não pedia permissão para existir, trazendo à tona uma Ana que talvez nem ela mesma conhecesse.
— Alessander Raker Stehling
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