“RAN DAN DAN”. O barulho do motor fez todo mundo na praça olhar. Kaio reduziu a marcha e parou a moto no ponto de encontro dos amigos. O sol batia na carenagem brilhante, refletindo não só a pintura novinha, mas também meses de trabalho duro e economia. Ele não era do tipo que gostava de se exibir, mas, ao desligar o motor e sentir os olhares sobre ele, abriu um sorriso. Finalmente tinha conseguido.
Eduardo e Marcos já estavam lá. Eduardo foi o primeiro a reagir, os olhos brilhando.
— Caramba, Kaio! Que nave! — disse, dando uma volta ao redor da moto. — Você conseguiu! Como foi?
Kaio tirou o capacete e riu.
— Trabalhei dobrado, cortei gastos, fiquei um tempão sem sair… Mas valeu a pena.
Eduardo balançou a cabeça, impressionado. Ele sabia o quanto Kaio se esforçava, como sempre dava um jeito de crescer sem depender de ninguém. Para ele, aquilo era inspirador.
Marcos, por outro lado, ficou quieto por um momento. Depois, soltou um riso irônico.
— Sorte a sua, né?
Kaio não percebeu a indireta. Eduardo, sim. Ele conhecia Marcos bem o suficiente para saber que, por trás daquelas palavras, havia um incômodo maior.
Nos dias seguintes, Marcos sumiu. Não respondia às mensagens no grupo, não aparecia na praça. Ficava em casa, muitas vezes, só pensando. A imagem de Kaio chegando com aquela moto novinha voltava à sua cabeça o tempo todo, junto com uma sensação incômoda que ele evitava nomear.
— Ah, agora o Kaio tá se achando só porque tem uma moto.
— Deve ser bom ser filhinho de papai.
Ele nunca dizia isso na cara de Kaio, mas espalhava para os outros, sempre com certo ressentimento. Eduardo ouviu esses comentários e logo retrucou:
— Mano, você sabe que ele ralou muito pra isso, né?!
— Ah, Eduardo, para de puxar o saco. Nem todo mundo tem essa sorte.
Eduardo suspirava. Ele sabia que a inveja de Marcos não era exatamente pela moto, mas pela sensação de estar ficando para trás. Marcos sempre teve esse jeito de achar que a vida era injusta, que as conquistas dos outros diminuíam as dele.
Certa tarde, Eduardo encontrou Marcos sozinho na praça, mexendo no celular com cara de derrotado. Sentou-se ao lado dele e ficou um tempo calado, até que falou:
— Você tá estranho esses dias. O que foi?
Marcos deu de ombros.
— Nada.
Eduardo insistiu.
— Cara, desde que o Kaio chegou com aquela moto, tu mudou. E vem falando pra geral que ele é sortudo. Tu sabe disso, né?
Marcos franziu a testa, mas Eduardo continuou.
— Ele trabalhou, economizou, abriu mão de um montão de coisas… e, se você quiser uma máquina daquelas, também pode ter. É só correr atrás. Mas, enquanto ficar preso nessa ideia de que o mundo tá contra você, nada vai mudar.
Marcos ficou quieto. Pela primeira vez, não tinha uma resposta pronta.
Naquela noite, sozinho no quarto, ficou pensando. No fundo, sabia que Eduardo estava certo. Sentia inveja porque queria aquilo também, mas nunca tinha feito nada de concreto pra conseguir.
No dia seguinte, decidiu ir até Kaio.
— Ei, mano… posso te perguntar uma coisa? Como você conseguiu juntar grana? Eu tento, mas nunca consigo.
Kaio sorriu, sem maldade. Explicou como havia feito, deu umas dicas. Marcos ouviu com atenção, mas ainda sem saber por onde começar.
Alguns dias depois, enquanto via Kaio partir com a moto, sentiu algo diferente. Ainda havia uma ponta de incômodo, mas também uma fagulha de motivação. Pela primeira vez, a possibilidade de alcançar o seu sonho parecia real.
Naquela noite, pegou o celular e abriu a calculadora. Fez algumas contas, rabiscou números. Mas, antes de definir qualquer objetivo, soltou um longo suspiro.
— Putz, será que eu consigo mesmo?
Ainda não sabia exatamente o que fazer. Mas, talvez, pela primeira vez, estivesse disposto a descobrir.
— Alessander Raker Stehling
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