“Eu sei que meu marido não é perfeito, mas quem é?” — disse Bruna aos amigos após apanhar do seu esposo pela vigésima vez.
“Toda mulher é nervosa e ciumenta.” — disse Alan aos amigos após sofrer repetitivas humilhações de sua esposa.
Já presenciou — ou vivenciou — uma nítida situação de abuso onde a vítima se comportou passivamente?
Os amigos(as) dizem que a pessoa é trouxa, que gosta de apanhar, “mulher de malandro”, frouxa, “pau-mandado” e besta.
Mas, por que alguém suportaria tantas humilhações e abusos? Por qual motivo se submeteria a relacionamentos abusivos, ou não conseguiria sair deles? Obviamente as respostas não são simples, mas podemos levantar algumas hipóteses.
Crianças que tiveram um apego seguro, ou seja, a atenção, afetos e presença dos cuidadores em sua infância, aprendem a pedir ajuda e a se virarem. Pais atenciosos poderão perceber quando intervir, ou não, nas situações cotidianas dos filhos, o que as leva a sensos de segurança e autonomia.
Já uma criança vítima de abusos e negligências, que teve um apego desorganizado, digo, que chorava, suplicava, sentia medo, passava por ultrajes, e não tinha a presença e apoio dos pais, aprenderá que nada que ela possa fazer, ou dizer, vai lhe ajudar. Que ninguém se importa com ela, que não têm valor, voz, que é indigna e não merece amor.
Uma criança que teve um apego seguro na infância, já na vida adulta, saberá pedir ajuda, se virar, ou auxiliar outras pessoas que precisam de apoio. Já a outra, que teve um apego desorganizado na infância, estará condicionada a não reação, suportará muitos maus-tratos, não pedirá ajuda de ninguém e poderá viver paralisada, não enfrentando os desafios da vida adulta, pois não confia em si.
Perceba que o que recebemos dos nossos pais na infância influenciarão todas as nossas escolhas e comportamentos na vida adulta. Diante disso, convém ter mais empatia com os seus amigos, ou pessoas que se submetem a relacionamentos abusivos. A aceitação delas pode estar emaranhada com tudo o que passaram na infância, e diante disso, nenhum conselho terá efeito, a não ser a busca delas por si mesmas, através do autoconhecimento.
— Alessander Raker Stehling
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