Qual é o sentido da vida? Essa é uma pergunta humana corriqueira. No entanto, é geralmente dito que cada um deve encontrar o seu próprio sentido, visto que, a vida humana é menos determinada pelos instintos que a de outros animais.
Olhe bem para um cachorro, um gato, ou um passarinho, eles não questionam qual é o sentido da vida, mas apenas seguem seus instintos, vivem numa boa assim até morrerem.
Já a espécie humana evoluiu a ponto da determinação instintiva atingir o mínimo e o desenvolvimento cerebral o máximo. O nosso cérebro, principalmente o néo-cortex, é três vezes maior que o de outros primatas, dando a nós Homo-sapiens capacidades extraordinárias e únicas.
A natureza diminuiu a dependência humana exclusivamente dos instintos, dotando-nos da capacidade de consciência, raciocínio e imaginação. Em suma: nós seres humanos precisamos pensar e direcionar a nossa vida a alguns objetivos a fim de sobrevivermos. Confiar apenas em nossos instintos (como fazem outros animais) não nos garante um bom direcionamento de vida.
Como nossa bússola interna é imprecisa, necessitamos de orientação externa para definirmos nossos objetivos de vida. Essas orientações nos são ensinadas desde muito cedo pelos nossos pais, religião e sociedade. ”Quando você crescer vai ser médica pra cuidar do papai né filha?“, ”Usar drogas só te leva pro caixão meu filho!”, “Temos de obedecer a Deus acima de qualquer coisa…”, “Quero que vocês sejam independentes e ganhem muito dinheiro.”
O roteiro de vida sugerido não varia muito de uma pessoa para outra. Basicamente, a orientação é: estudar muito, trabalhar duro, ganhar muito dinheiro e ser feliz. Observamos que o capitalismo exerce uma forte influência em todas as nossas decisões de vida e que, geralmente, os objetivos finais de muitos são a aquisição de propriedades privadas, o aumento do lucro por meio da exploração do trabalho de outras pessoas, a acumulação de capital e o consumo de bens e serviços..
As principais orientações de vida (valores e princípios) dos seres humanos são extraídos do nosso sistema econômico, construímos assim um caráter mercantil.
Não apenas consumimos as mercadorias, mas somos também mercadorias a serem consumidas. A busca é o lucro, a ostentação, a vantagem, o status. Assim, muitos homens e mulheres trocam parceiros antigos por outros mais jovens, ricos ou belos. O sucesso humano depende da habilidade de se vender e do quão comprável você é. É jovem, inteligente, tem uma boa “embalagem”, bom humor, dinheiro, beleza, carro, casa própria, isso aumenta a vendabilidade e comprabilidade.
Talvez você questione: “Mas as coisas não foram sempre assim?” Sempre eu não diria, pois não vivemos em outras eras, mas uma coisa é fato: o manual que a maioria utiliza para orientar a vida é emprestado do capitalismo e isso é um problema.
Ao moldarmos nosso caráter seguindo os padrões financeiros acabamos alienando-nos do nosso lado humano e adotando um estilo de vida adaptado ao mercado, muitas vezes frio e superficial. As mulheres são incentivadas a se preocupar com a aparência física, procurando ser sempre jovens, malhadas e atraentes, enquanto os homens são pressionados a terem elevados recursos financeiros, posses e bens. Obviamente, somos muito mais do que isso, no entanto, essas pressões sociais muitas vezes nos levam a dar mais importância a esses fatores externos do que à nossa essência humana.
Como o mercado não valoriza sentimentos como bondade, compaixão, empatia genuína, amor, generosidade desinteressada, muitos acabam por não valorizar esses atributos humanos igualmente.
Em geral, as pessoas têm pouco interesse em questões filosóficas ou reflexivas. Têm enormes egos frágeis e mutáveis, mas nenhum núcleo ou senso de identidade. Isso ocorre porque a personalidade dos indivíduos são construídas para se adaptarem às empresas e mercado. Desta forma a vida emocional permanece caquética e jamais amadurecida além do nível infantil.
O mercado não tem apreço profundo a nada; tudo serve para ser consumido e trocado por um novo modelo, que seguirá o mesmo ciclo. Ao utilizarmos o modelo mercantil como guia, acabamos fazendo o mesmo. Não criamos laços profundos com nada nem ninguém, desapegamo-nos de tudo (o que inclui nós mesmos) e isso nos leva a relações superficiais e autoestima ínfima.
Em uma indústria, por exemplo, as emoções humanas são entraves; o que importa são os números, a produção e as metas batidas. Ao nos adaptarmos ao mercado, acabamos subdesenvolvendo nosso lado emocional e isso nos transforma cada vez mais em máquinas insensíveis. A maioria não é assim?
Voltando à questão inicial: qual é o sentido da vida? Com certeza, eu não sei. No entanto, não é adotando os valores mercantis que encontraremos a resposta. Ao fazer isso, acabamos nos alienando do nosso lado humano, nos afastando de nós mesmos, dos outros seres humanos e da natureza.
“Tudo o que o economista nos tira de vida e humanidade, restitui-nos na forma de dinheiro e bens.” Erich Fromm.
— Alessander Raker Stehling
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