Theo se encolhe no canto do quarto, coração disparado, enquanto os gritos e o som de uma agressão ecoam pela casa. O corpo paralisa, o medo domina. Anos depois, já adulto, basta um tom de voz mais alto para que aquela sensação volte com força. O trauma não é apenas um evento doloroso, mas uma experiência que ultrapassa a capacidade do psiquismo de processá-la, deixando marcas profundas no inconsciente. Quando a carga emocional de um acontecimento é grande demais, o cérebro não consegue integrá-la como uma memória comum, e suas impressões ficam fragmentadas, retornando de maneira descontrolada diante de estímulos similares.
Para entender o que ocorre no cérebro durante um trauma, é essencial observar três áreas principais: o sistema límbico (responsável pelas emoções), o córtex pré-frontal (encarregado da racionalização e do controle dos impulsos) e a amígdala cerebral (centro do medo e das respostas de sobrevivência). Diante de um evento altamente estressante — como uma criança que presencia a mãe sendo agredida pelo pai — a amígdala entra em intensa atividade, desencadeando uma descarga emocional massiva. O córtex pré-frontal, que deveria interpretar e regular essa experiência, pode ficar sobrecarregado e incapaz de exercer seu papel.
O que acontece então? O organismo entra em paralisia. O sistema de luta ou fuga, controlado pelo tronco encefálico, não consegue lidar com a ameaça e ativa um mecanismo primitivo de congelamento. Esse estado é o último recurso do cérebro quando nem a fuga nem o enfrentamento são viáveis. Mas há um problema: enquanto a experiência permanece intensa, o processamento emocional fica bloqueado. Sem conseguir organizar a memória do evento de forma coerente, o cérebro armazena fragmentos soltos — imagens, sensações, sons — sem a clareza de uma narrativa. Isso explica por que memórias traumáticas podem ser reativadas de forma abrupta e descontrolada por estímulos cotidianos, como um cheiro, um tom de voz ou um simples gesto.
As consequências desse tipo de vivência na infância podem se estender por toda a vida adulta. Quem cresce em um ambiente traumático — como o de Theo — pode desenvolver dificuldades na regulação emocional, insegurança nos vínculos afetivos e até transtornos como ansiedade e depressão. A hiperatividade da amígdala, combinada com o funcionamento deficiente do córtex pré-frontal, torna o indivíduo mais reativo ao estresse, levando a explosões emocionais desproporcionais ou a uma postura excessivamente defensiva. Além disso, padrões de evitação se consolidam: a pessoa foge de situações que remetam ao trauma, limitando suas experiências e comprometendo seu desenvolvimento pessoal e profissional.
É comum também a repetição de padrões destrutivos. Muitas vezes, sem perceber, o adulto traumatizado se envolve em relações que reproduzem a dinâmica vivida na infância, perpetuando o ciclo do sofrimento. Essa “compulsão à repetição” ocorre porque a psique tenta dar sentido à experiência traumática. No entanto, sem consciência desse padrão, a pessoa acaba se colocando repetidamente em situações semelhantes, reforçando o trauma em vez de resolvê-lo. Isso explica por que tantas vítimas de abuso emocional acabam se relacionando com parceiros abusivos, mesmo quando racionalmente desejam o oposto.
A neurociência moderna confirma muitos aspectos da teoria freudiana sobre o trauma, mas amplia sua compreensão. Hoje, sabemos que o trauma não depende apenas do impacto, mas também do contexto e do suporte disponível. Com um ambiente seguro, a experiência, por mais dolorosa que seja, pode ser integrada sem se tornar uma prisão psicológica.
O trauma não é uma sentença. Compreendê-lo pela psicanálise e pela neurociência nos ajuda a ressignificar dores e transformar sofrimento em aprendizado. Afinal, a mente não é apenas um depósito de cicatrizes, mas um organismo vivo, capaz de cura e renovação.
— Alessander Raker Stehling
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