Estava ontem conversando sobre filhos com a Deise, uma amiga de infância. Em certo momento ela disse: “Cara, minha infância foi uma merda, faltava tudo, passei muita necessidade e, é por isso que meu filho terá tudo do bom e do melhor. Não deixarei faltar nada pra ele.”
A princípio achei aquilo muito bonito, altruístico, digno de elogios, mas chegando em casa e folheando alguns textos de Winnicott (1896–1971) encontrei um problema nessa afirmação da Deise, que por sinal eu já havia ouvido por diversos pais.
Muitos pais acreditam que ao darem tudo para os filhos estarão criando-os da melhor forma, no entanto, não é isso que o pediatra D. W. Winnicott diz. Segundo ele, o bebê cresce a seu modo, cabendo aos pais criarem um ambiente capaz de atender às necessidades básicas do lactente, como alimentação, abrigo, conforto e segurança.
Veja bem, cabe aos pais atenderem às necessidades básicas do bebê. E outro ponto, segundo Winnicott, quem solicita essa satisfação é o pequenino. Os pais devem identificar qual é a necessidade do bebê e dar isso a ele. Agindo assim, o infante irá amadurecer segundo suas necessidades e tendências, encontrando uma base para ser ele mesmo.
Outro ponto importante é que, ao atender às necessidades do bebê, ele se sentirá seguro, tranquilo e respeitado. Por outro lado, pais que dão tudo para os filhos “plantam” neles diversos problemas que serão visíveis mais tarde na vida.
Dentre esses problemas podemos citar: dependência de objetos para regulação emocional, baixa criatividade, pois a criança não precisou criar seus próprios brinquedos, dificuldades para lidar com a frustração e o não, dificuldades em perder e crescer com a derrota, dependência extrema dos pais e diversos outros obstáculos.
Por fim, dar tudo aos filhos pode acabar criando neles necessidades artificiais, levando-os a depender do ter e a um desenvolvimento limitado do ser. No fim das contas, isso é uma tremenda desvantagem na vida adulta.
Pensando bem, amanhã mesmo apresentarei minha pesquisa a Deise, quem sabe ela não possa repensar esse desejo, que, no fundo é dela mesma e não tem relação com o seu futuro filho.
“Os pais não têm de fazer seu bebê como o artista faz seu quadro ou o trabalhador de cerâmica seu pote” — D. W. Winnicott
— Alessander Raker Stehling
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