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Foto do escritorAlessander Raker Stehling

Depressão e busca pela Felicidade: a trágica história de Marcos e a lição que deixou

Atualizado: 8 de ago. de 2023

Sempre me pego pensando no Marcos, crescemos juntos. Fomos amigos inseparáveis, estudamos na mesma escola, jogávamos bola na mesma posição, éramos goleiros. Vivíamos disputando em tudo quem era o melhor, hahaha! Bons tempos.

Na adolescência, namoramos a mesma garota, Gisele. Eu a namorei primeiro e jogava isso na cara do Marcos, ele ficava vermelho feito pimentão de raiva, era tão bacana nossa amizade.


Um belo dia ele bateu no portão lá de casa e se despediu de mim, disse que iria cursar engenharia na UFMG, que era a profissão do futuro e que ia ganhar muito dinheiro. Eu falei: “Poxa cara, não íamos fazer Letras juntos? Era o nosso sonho, vamos ser professores lembra, o que aconteceu?” Ele me disse com uma voz triste: “Ah, véio, meu pai me tirou de ideia, ele falou que ser professor não tá com nada, e de Letras ainda por cima, piorou! Então na hora de prestar vestibular troquei para engenharia.” Fiquei sem entender, mas me despedi dele. Eu mal sabia que aquela seria nossa última conversa.


Nessa época não tínhamos celular e soube através de um primo do Marcos que ele era engenheiro na Gerdau. Eu cursei letras como sempre quis, sentia muita falta dele, mas como morava no interior de São Paulo, ficava complicado visitá-lo, e, além disso, eu nem sabia em qual cidade ele estava morando.


Anos se passaram, e um belo dia sai para a rua. Olhei para baixo, e lá no fim dela vi o primo do Marcos vindo correndo. Ele estava chorando e gritando o meu nome. Fiquei bastante assustado confesso, e ele veio logo me falando: “Véio, cê não sabe da pior, acabei de ficar sabendo que o Marcos faleceu.” Nossa eu não acreditava no que tinha ouvido, me veio a lembrança de todos os nossos momentos juntos desde a infância, não segurei e desabei a chorar. Com os olhos cheios d’água falei: “O que aconteceu? Me conta”. Ele me disse que Marcos tinha se matado.


Fiquei em choque; conversamos por horas, e ele me solta que o Marcos nunca foi feliz na engenharia, que tinha dinheiro, uma boa casa, carros, mulheres, mas que no fundo ele queria mesmo era ser professor. Disse para esse primo que nunca se esqueceu de mim e morria de vontade de vir me visitar, mas o trabalho era tanto, que ele mal tinha tempo para descansar. Soube através dele que Marcos vivia dopado de remédios tarja preta, que sofria de forte depressão. Eu não sabia de nada disso.


Bastante abatido, me sentei no meio-fio e senti uma leve pressão nas costas, olhei para trás e vi um caderno. Perguntei: “O que é isso?” “O Marcos deixou esse caderno comigo quando fui à casa dele. Isso foi anteontem, ele me pediu para te entregar quando te visse.” Falou ele.


Abri rapidamente o caderno e fiquei espantado ao ler lindos poemas que ele havia escrito. Nele tinha um desenho que me pareceu ser de uma sala de aula com um quadro negro no fundo. Meu coração ficou em pedaços ao ler um texto de Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”


Naquele instante, com lágrimas nos olhos, olhei para os céus tentando entender tudo aquilo. Continuei folheando, e só Deus sabe a dor que senti ao ver, na última folha daquele caderno, uma foto de nós dois abraçados com roupa de goleiro e logo abaixo a frase: “Obrigado por tudo meu amigo, sinto muito sua falta, eu era feliz e não sabia.”


— Alessander Raker Stehling


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Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Oscar Wilde
Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Oscar Wilde
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