Você já fez, ou faz, algum tipo de psicoterapia (TCC, Psicanálise…)? Se faz, talvez tenha se perguntado: quando isso acaba? Quando devo encerrar minha terapia? Vamos falar sobre isso agora.
Muitos pacientes, já se sentindo um pouco melhores da reclamação inicial — porém, pode ocorrer o inverso, eles se sentirem piores e incomodados, devido aos questionamentos do terapeuta —, costumam parar a terapia abruptamente. Um belo dia, começam a ignorar as mensagens do terapeuta (quem é psicoterapeuta sabe disso), que deseja apenas confirmar a próxima sessão, ou pedem uma pausa na terapia — pausa essa que dura duas eternidades. É normal que não saibamos quando encerrar a terapia, por isso levantei três elementos que podem lhe ajudar a identificar esse momento.
Antes de entrarmos nestes três pontos, precisamos entender qual é o papel de uma psicoterapia. Para que fazemos uma psicoterapia? Fazemos terapia por diversos motivos: compreender e modificar esquemas desadaptativos (comportamentos, pensamentos), tratar depressão, ansiedade e outras perturbações mentais. Investigar e compreender pensamentos, desejos, fantasias e medos inconscientes. Fortalecer a autorregulação emocional e aprender a lidar com as emoções (inteligência emocional). E talvez o motivo mais procurado: melhorar as relações interpessoais.
Exemplifiquemos para ficar mais claro: um belo dia a pessoa sente que algo em sua vida não está legal, e ela não consegue lidar com isso sozinha. Ela percebe que tem reações violentas e desproporcionais com o parceiro, que ameaça terminar a relação. Essa pessoa, por gostar muito do outro, entra em desespero e contata o(a) psicoterapeuta. É iniciado um processo psicoterapêutico e ambos controem uma relação de confiança e aprendizagem colaborativa, visando solucionar uma questão — neste caso, evitar que as unhas de gel fiquem cravadas nas costas do coitado. Neste processo, o paciente aprenderá novas habilidades, conhecimentos (porque reage assim, quando isso começou, etc.) e conceitos que podem ajudá-la a lidar com esse comportamento de formas diferentes e mais eficazes. Ela pode, neste exemplo, aprender a controlar as emoções — evitando assim ter que gastar R$90,00 para refazer as unhas de gel toda vez que tem uma discussão acalorada com o parceiro.
Eu havia prometido uma coisa… Ah, lembrei; apresentar três elementos que podem lhe ajudar a identificar o momento de encerrar sua psicoterapia. Vamos lá.
𝟭 — 𝗘𝘀𝘁𝗼𝘂 𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼𝗿𝗮𝗻𝗱𝗼?
A melhora é relativa ao objetivo inicial, mas você pode sentir que a terapia não está te ajudando em nada. Neste caso, convém conversar com o seu psicoterapeuta antes de desistir; talvez para você não esteja claro os avanços conquistados. É muito comum também enfrentar resistências psicológicas em algum momento da terapia, que podem te levar a evitar emoções dolorosas e rejeitar mudanças. Nesta situação, caso a terapia seja encerrada, a principal questão não terá sido trabalhada — você voltará a agir da mesma forma e nada mudará em sua vida.
𝟮 — 𝗘́ 𝘂𝗺𝗮 𝗱𝗲𝗰𝗶𝘀𝗮̃𝗼 𝗺𝗶𝗻𝗵𝗮, 𝗼𝘂 𝘂𝗺𝗮 𝗳𝘂𝗴𝗮?
Se você foi abandonado pelos seus pais na infância, ou se sentiu desprezado, poderá projetar isso em seu psicoterapeuta, abandonando-o ou desprezando-o. Quem teve um apego evitativo ou desorganizado com os pais costuma abandonar as pessoas com quem se relaciona. Funciona mais ou menos assim: “já que sempre me abandonam, eu abandonarei primeiro.” Essa atitude inconsciente de afastamento visa evitar o sofrimento do abandono — que a mente inconsciente insiste em “dizer” que ocorrerá em algum momento.
𝟯 — 𝗣𝗿𝗲𝗰𝗶𝘀𝗼 𝗱𝗲 𝘂𝗺 𝘁𝗲𝗺𝗽𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝘃𝗶𝘃𝗲𝗿 𝗮 𝗺𝗶𝗻𝗵𝗮 𝘃𝗶𝗱𝗮 𝘀𝗼𝘇𝗶𝗻𝗵𝗼.
Talvez perceba que aprendeu muito em sua psicoterapia e agora quer colocar em prática. Edificou habilidades de enfrentamento, regulação emocional, habilidades de relacionamento interpessoal, ou prática de meditação e atenção plena. Se você acha que está pronto para sair por conta própria utilizando todas as novas “ferramentas” no dia a dia, poderá discutir isso com seu terapeuta. Ele pode sugerir diminuir as sessões ou encerrar a terapia.
Ah, lembrei de algo importante: muitos acham que devem encerrar a terapia quando se sentirem felizes ou quando as lembranças do passado não doerem mais. Sendo bem honesto, nenhuma das duas coisas ocorrerão. Você continuará tendo dias bons, ruins e lembranças dolorosas (a dor estará bem atenuada confesso) após terminar a sua psicoterapia. A diferença é que agora você terá a disposição mais ferramentas e habilidades — que aprendeu durante a terapia — para lidar com essas questões que tanto te incomodavam, e muito mais recursos para enfrentar as imprevisibilidades da vida. Um ganho tremendo, diga-se de passagem.
— Alessander Raker Stehling
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