Uma das grandes descobertas de Freud foi o fenômeno da transferência, que está presente em todas as nossas relações interpessoais. Transferência? Como assim?
Freud entendeu a transferência como: o deslocamento inconsciente — por parte do paciente — de sentimentos (positivos e negativos), desejos, e figuras parentais, para o seu terapeuta. Ele chegou à conclusão de que: o forte vínculo que se estabelece entre o paciente e o terapeuta, leva o paciente a repetir com o terapeuta, os comportamentos e sentimentos que eram (ou deveriam ser) dirigidos aos seus pais.
Se o paciente admirava o pai, em algum momento vai admirar o terapeuta, se ele odiava o pai, em algum momento odiará o terapeuta. Assim funciona a transferência, e um psicólogo/psicanalista bem treinado poderá manejá-la para ajudar o paciente a tomar consciência e mudar seus padrões comportamentais inconscientes.
No entanto, esse fenômeno da transferência não acontece apenas nas relações terapêuticas. Ele se estabelece em todas as relações interpessoais profundas do indivíduo, e é a causa de muitas brigas e divórcios.
Quem nunca ouviu: “eu não sou sua mãe não viu, trata de colocar a toalha no varal.”, ou, “eu acho que você pensa que eu sou o seu pai, só pode, olha, eu não vou ficar te mimando não viu, você já é adulta, vê se cresce”. Essas atitudes disfuncionais são exemplos de repetições de modelos comportamentais infantis, porém, agora deslocadas não mais para os pais, mas para o amado(a). O que acaba sendo insuportável para muitos.
Já imagino a pergunta que gostaria de fazer: como sair dessa transferência? Como parar com isso? Como percebemos, a transferência está ligada à repetição inconsciente de comportamentos e sentimentos infantis, que são deslocados dos pais, para novas figuras substitutas, sendo assim, para que ela perca força ou cesse de vez, é necessário o desenvolvimento de responsabilidade, independência e racionalidade nos indivíduos.
Vimos que, quanto mais as pessoas se sentem pequenas, fracas e presas nas fantasias infantis, mais transferências farão; diante disso, o remédio é tornar os indivíduos cônscios da realidade e próprias forças.
- Alessander Raker Stehling
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