Schopenhauer, com sua franqueza gritante, apontava uma armadilha perigosa em que muitos de nós inevitavelmente caímos: a “preocupação viciosa com a opinião alheia”. Esse vício nos aprisiona em um ciclo insaciável. Não basta termos algo que cumpra sua função — queremos objetos que reflitam status, poder e sucesso. Não basta um relógio que nos diga as horas, queremos um Rolex para que todos saibam que podemos tê-lo. Não basta um carro que nos leve ao nosso destino, queremos uma Ferrari para que vejam que chegamos.
E, assim, entramos em um jogo perigoso, onde o valor das coisas deixa de ser medido pela utilidade e passa a ser definido pela admiração, inveja e prestígio que podem atrair. O objeto, então, perde sua essência, tornando-se apenas um símbolo de validação externa.
Se fôssemos imunes à pressão de agradar e impressionar os outros, como Schopenhauer profetizou, “o luxo não chegaria a ser um décimo do que é”. O desejo por bens luxuosos é, em grande parte, uma construção social. Publicidade, redes sociais, celebridades — todas vendem uma ideia de sucesso baseada no que possuímos, não no que somos. E, assim, somos levados a acreditar que só seremos felizes quando estivermos alinhados com esse padrão inalcançável de vida.
Mas essa busca incessante por reconhecimento e status nos afasta da verdadeira felicidade. Como Schopenhauer já dizia, a felicidade autêntica não está na aprovação dos outros ou no acúmulo de bens materiais, mas na aceitação de si mesmo. O luxo, visto por esse prisma, é uma ilusão — uma tentativa desesperada de preencher um vazio existencial com algo que, no fundo, não tem substância.
Hoje, a situação se agrava ainda mais com as redes sociais, que amplificam essa preocupação com a aparência, criando uma realidade onde parecer bem-sucedido é mais importante do que ser. Compartilhamos momentos cuidadosamente editados, cercados de objetos de desejo, na esperança de ganhar curtidas e seguidores — uma validação rápida, superficial e insaciável.
E o mais triste? Quanto mais buscamos essa aprovação externa, mais nos distanciamos de nós mesmos. A felicidade se torna algo sempre fora de alcance, como uma bolsa de luxo que, uma vez adquirida, logo perde seu brilho, dando lugar a um novo desejo. Estamos presos em um ciclo de consumismo que nunca nos sacia, porque, na verdade, nunca foi sobre o objeto em si, mas sobre a necessidade desesperada de sermos aceitos.
No fim das contas, o luxo nos seduz porque estamos cegos pelo olhar alheio. Quando finalmente deixamos de nos preocupar com o que os outros pensam, descobrimos que o verdadeiro valor das coisas não está na marca, no preço ou no status que conferem, mas no quanto elas realmente nos servem e nos fazem bem. Se fôssemos mais honestos conosco, perceberíamos que a simplicidade tem muito mais a oferecer do que qualquer bolsa de grife ou carro esportivo.
Porque o luxo, por trás de todo o seu brilho, carrega consigo uma série de preocupações: o medo de perder, de não impressionar, de não ser suficiente. Quanto mais caro o objeto, maior a ansiedade que ele traz. O relógio caro não marca apenas o tempo, ele marca a preocupação de que seja roubado. O carro de luxo não te leva apenas a lugares, ele carrega o peso de ser sempre notado. Quanto mais luxuoso o objeto, maior a carga de preocupações que ele traz, transformando o que deveria ser um prazer em um fardo diário.
De que adianta ter tanto luxo nas mãos, se a alma está vazia? Afinal, o nosso verdadeiro valor não está naquilo que temos, mas no que somos. E isso, dinheiro algum pode comprar.
— Alessander Raker Stehling
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