Ontem, conversando com Edgar, ele, bastante decepcionado com a vida, me disse com lágrimas nos olhos: “Sabe, eu só queria esquecer tudo isso que tô sentindo, fugir, sair por aí, sei lá, mudar de cidade e deixar tudo para trás”. Eu, calmamente, falei: “Amigo, mas fugir para onde, se está tudo aí dentro de você? Essa bagagem vai junto, aonde quer que você for.”
Edgar me olhou com uma expressão mista de surpresa e incredulidade, como se estivesse processando aquelas palavras pela primeira vez. Parecia que a ideia de carregar sua “bagagem” emocional para qualquer lugar que fosse era algo novo para ele.
“Mas como assim, cara?” Ele perguntou, com um tom de curiosidade misturado com um leve desespero. “Quer dizer que não importa para onde eu vá, eu nunca vou escapar desses sentimentos?”
Balancei a cabeça em concordância. “Exatamente. Não importa se você está aqui, em outra cidade, ou na China. Se você não lidar com o que está dentro de você, continuará carregando esse peso, não importa para onde vá. É a vida, irmão, não tem como recomeçar do zero. Entende?!”
Pude ver Edgar refletindo sobre minhas palavras. Ele parecia estar processando uma nova perspectiva sobre sua situação. Depois de alguns momentos de silêncio, ele finalmente falou, com uma mistura de aceitação e determinação em sua voz.
“Essas porcarias me doem desde pequeno, sabe; é duro lidar com isso, mas você me deu uma ideia boa. Talvez seja hora de enfrentar esses demônios de uma vez por todas, em vez de ficar tentando fugir deles.”
Sorri, reconhecendo a coragem implícita em suas palavras. “Exatamente, meu amigo. Enfrentar é o primeiro passo para superar. E saiba que você não está sozinho nessa caminhada. Estou aqui para te apoiar, sempre que precisar.”
Naquele momento, senti que Edgar se acalmou, como se tivesse tirado uma mochila de cem quilos das costas. Era como se as palavras que trocamos tivessem acendido uma centelha de esperança dentro dele, dissipando parte da angústia que o consumia. Foi reconfortante testemunhar sua transformação, percebendo que minhas palavras talvez tivessem encontrado um eco dentro de seu ser, guiando-o em direção a uma nova perspectiva a respeito de sua própria jornada emocional.
E assim, enquanto o sol se punha lentamente no horizonte, Edgar e eu continuamos nossa conversa, compartilhando histórias, reflexões e, mais importante, compartilhando o fardo emocional que ambos sabíamos que não podia ser deixado para trás, mas que poderia ser enfrentado e superado com o tempo e com a ajuda mútua.
— Alessander Raker Stehling
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