Ontem, 00:15, já pronto para dormir, recebo uma ligação da Carla, uma amiga. Ela, chorando copiosamente, disse: “Alê, não sei mais o que faço, nada tá bom, nada tá bom, quero sumir.” Fiquei confuso e preocupado ao mesmo tempo, e perguntei: “Poxa, Carla, sinto muito. Se quiser se abrir comigo, o que ocorreu, minha amiga?”. “Poxa, Alê, você sabe que fiz bariátrica, diversos procedimentos estéticos, uso as melhores maquiagens... daí abri uma caixa de perguntas anônimas no Instagram e recebi várias respostas me criticando, ofendendo mesmo, me chamando de feia, gorda e recalcada. Vê se pode, eu até desconfio de quem seja, mas não tenho certeza”, Carla, aflita, me respondeu.
Ficamos conversando por algum tempo até que consegui acalmá-la. Ambos fomos dormir, porém, desde cedo, esse episódio não sai da minha cabeça. Como chegamos a esse ponto, onde damos tanto poder à opinião dos outros sobre nossas vidas? Carla, cheia de conquistas e esforços pessoais, deixou-se abater por comentários anônimos, ditados por pessoas que talvez nem a conheçam de verdade. Não é só sobre a Carla. É sobre todos nós.
Vivemos em uma era onde a validação externa parece ser a medida do nosso valor. Redes sociais, curtidas, comentários e compartilhamentos se tornaram a régua pela qual medimos nossa aceitação e sucesso. Esquecemos que essas métricas são voláteis, efêmeras e muitas vezes, falsas.
É uma autossacanagem — se é que essa palavra existe — cruel. Como permitimos que essas vozes invisíveis, muitas vezes movidas por inveja ou malícia, moldem nossa autoimagem?! Olha que absurdo: permitimos que a crítica de um estranho anonimamente escondido atrás de uma tela destrua o que levamos anos para construir. É como se estivéssemos entregando todo o nosso valor a um frustrado qualquer.
A opinião de alguém que mal nos conhece não deveria ter o poder de desestruturar nossa confiança e felicidade. Precisamos redescobrir o valor da nossa própria opinião, do nosso próprio julgamento. Afinal, quem melhor do que nós mesmos para saber o que realmente importa, o que realmente somos?
E nós? Continuaremos a honrar essas vozes irrelevantes ou aprenderemos a nos honrar? A verdadeira honra está em reconhecer o próprio valor, independentemente do que os outros dizem. Quando nos dermos conta disso, não haverá crítica que nos abale, nem elogio que nos deixe com o ego inflado.
As falas da Carla me ensinaram que: a honra que dispensamos aos outros deve ser sempre inferior àquela que dispensamos a nós mesmos. Mesmo porque, quando a noite cai e estamos sozinhos com nossos pensamentos, é nossa voz que deve ecoar mais alto, é nosso julgamento que deve prevalecer. Afinal, somos nós que vivemos com nossas escolhas, nossos erros e acertos. E, no fim das contas, ninguém sabe das pelejas que passamos para chegar onde chegamos. No final, é o respeito por nós mesmos que define quem realmente somos e o valor que temos. E é essa honra, inabalável e autêntica, que jamais devemos permitir que os outros roubem de nós.
— Alessander Raker Stehling
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