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Foto do escritorAlessander Raker Stehling

Jung Estava Certo: A Normalidade É Inimiga da Autenticidade

Ontem, na casa da minha avó, experimentei uma nostalgia muito louca. Entre risos e histórias, minha família e eu encontramos um antigo álbum de fotos. A cada página, era uma gargalhada.


— “Tio, olha essa sua calça pega-frango! Que coragem!”


— “E esse mullet aqui? Meu Deus, você tá parecendo um astro dos anos 60. Hahahaha!”


— “Mas essa blusa verde-limão com a calça roxa foi o ápice, hein, tia!”


— “Olha esse look aqui! Topete, bermuda justinha e camisa de abacaxi?” — gargalhou minha prima.


Ríamos alto, mas algo começou a me incomodar. Observei novamente as fotos e, depois, disfarçadamente olhei para a roupa de cada um naquela sala. Cinza. Preto. Bege. Nada além disso. Nem uma corzinha ousada, nem uma estampa excêntrica. Tudo básico, neutro, previsível.


De repente, me senti um pobre coitado. Fiquei imaginando em que momento nos perdemos. “Quando foi que passamos a ter tanto medo de sermos diferentes?”


Lembrei de meu pai, anos atrás, sentado comigo na sacada do apartamento. Ele apontava para os carros que passavam lá embaixo:


— “Aquele laranja é um Gol; olha o Voyage, aquele ali verde-limão; aquele lá azul-bebê é um Monza, filho; e aquele outro ali, laranja-abóbora, é um Opala.”


Inclusive, meu pai tinha um Opala desses — era o máximo.


Os carros eram tão vivos quanto a época. Cada proprietário tinha orgulho de exibir sua personalidade: na roupa, no carro, na casa, em tudo. E hoje? Cinza, branco, preto.


— “Putz! É mais barato, mais prático, né, o mercado agradece. Mas também é mais entediante.”


Não foi só a cor que sumiu; deram descarga também na ousadia e na coragem de sermos diferentes.


Pensei na natureza, que nunca teve medo de ser ela mesma. Olhe para um campo florido: um festival de cores que desafia a monotonia. As aves, com penas que mais parecem pinceladas de um artista louco. Até o céu, ora azul profundo, ora laranja vibrante, num pôr do sol. Ela nos lembra que a diversidade é o que torna a vida interessante.



E nós? Nós, que um dia fomos crianças sem filtros e sem medo, agora fazemos fila para caber em moldes. Usamos as mesmas roupas, ouvimos as mesmas músicas, tiramos as mesmas fotos com os mesmos filtros. Até nossas opiniões, tantas vezes, parecem compradas em série. A normalização não poupou nem nossos sonhos, que, em grande maioria, giram em torno das mesmas coisas.


É, vovô Jung tinha razão: “ser normal é a meta dos fracassados.” Porque ser normal é abandonar a própria autenticidade. É abrir mão do colorido que nos torna únicos para se conformar a uma paleta de cinzas ditada por um sistema que valoriza o lucro, a previsibilidade e a conformidade.


Aquele velho álbum de fotos me tocou. Meus tios, com aquele jeitão tão excêntrico, pareciam realmente livres. Fiquei foi com vontade de voltar no tempo e experimentar aquilo — devia ser muito massa aquelas boates cheias de luzes e cores, lotadas de gente “esquisita”.


Hoje, estamos mais conectados do que nunca, mas tão distantes de nós mesmos. Perdemo-nos em meio ao cinza, deixando para trás um mundo que era, acima de tudo, brilhante, autêntico, vivo.


Então, por que insistimos em viver em preto e branco quando a natureza nos oferece um espetáculo de cores? Talvez seja hora de resgatar a ousadia, o brilho e a autenticidade que deixamos no passado. Afinal, o mundo seria bem mais legal se cada um revelasse as cores, luzes e nuances que carrega no coração.


— Alessander Raker Stehling

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“Ser normal é a meta  dos fracassados!” Frases Carl Gustav Jung
“Ser normal é a meta dos fracassados!” Frases Carl Gustav Jung

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