Antigamente as coisas geralmente eram assim: você entrava em um emprego e se aposentava nele.
Meu avô trabalhou a vida toda em uma empresa federal (Rede Ferroviária Federal) e se aposentou nela. O meu pai seguiu o mesmo caminho, trabalhou também em uma empresa federal e se aposentou. Já eu, não tenho a mesma perspectiva de futuro.
Quem teorizou sobre isso foi o sociólogo Zygmunt Bauman. Ele chamou os nossos tempos de “modernidade líquida”, como assim?
Com a palavra “líquida”, ele queria dizer fluidez, ausência de forma definida, velocidade e inconstância. Esses são os traços da atual modernidade, que tiveram início após a Segunda Guerra Mundial. O capitalismo globalizado e a tecnologia transformaram nossas relações sociais, econômicas e de produção.
Sou da década de oitenta, e comprovo que em apenas quarenta anos o mundo saiu da datilografia para a computação quântica. Não podemos negar que a tecnologia e a globalização trouxeram melhorias para a vida humana. Temos acesso a smartphones, carros, tênis, etc., fabricados em outros países. Entretanto, há também um lado negativo em tudo isso.
Da noite para o dia as coisas podem mudar, como ocorreu nestes tempos de pandemia, ou através do aparecimento de uma nova tecnologia. Essa “modernidade líquida” faz com que não tenhamos segurança e nem identidade. O posto de trabalho — projeto que antigamente escolhíamos para toda a vida — hoje é instável e precário. Não temos mais a segurança do passado, como talvez nossos avós tiveram.
Infelizmente, nem todos conseguem se adaptar às mudanças exponenciais atuais, e, em consequência disso, temos uma crise mundial de saúde mental. Distúrbios relacionados à depressão, ansiedade e instabilidade de humor, por exemplo, aumentaram significativamente na última década. E esse aumento não mostra sinais de desaceleração tão cedo, sendo essa tendência bastante comum entre crianças, adolescentes e adultos emergentes.
Particularmente não vejo o futuro com bons olhos, mas, prevejo um horizonte ainda pior, com transformações ainda mais radicais com a robótica. Talvez, se o grande Bauman ainda estivesse vivo, chamaria nossos tempos não mais de modernidade líquida, mas gasosa.
— Alessander Raker Stehling
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