Quem nunca sonhou que estava diante de uma privada linda, perfumada, brilhante… e acordou todo mijado? Ou então sonhou que estava devorando um hambúrguer delicioso, com aquele queijo derretido, a carne no ponto, o pão fofinho — e, ao acordar, sentiu até a boca salivar de verdade?
Esses episódios mostram o poder dos sonhos e, mais do que isso, da nossa psique. No mundo onírico, eventos reais e imaginários se misturam como se tivessem a mesma validade. O cérebro não faz distinção: se acredita que estamos num banheiro, relaxa a bexiga e encharca o colchão. Se crê que estamos saboreando algo suculento, aciona os sentidos e até produz reações fisiológicas. É uma confusão total entre o que aconteceu de fato e o que só existiu na mente.
Essa fusão entre real e imaginário não acontece só nos sonhos — ela também se manifesta em nossas memórias e emoções. E foi exatamente isso que Freud descobriu ao investigar a histeria.
No começo da carreira, o pai da Psicanálise enfrentou um problemão: suas pacientes histéricas relatavam traumas profundos, especialmente abusos sexuais na infância. Ele desenvolveu a famosa “Teoria da Sedução”, que dizia basicamente que a histeria era resultado de abusos reais sofridos na infância, que eram recalcados e voltavam à tona causando sintomas.
Porém, conforme aprofundou suas investigações, Freud percebeu algo intrigante. Algumas pacientes, em uma sessão, diziam ter vivido uma experiência específica; na outra, mudavam completamente a história. Isso despertou sua curiosidade. Ele resolveu ir a fundo, confrontou familiares, buscou registros e descobriu que, muitas vezes, os abusos relatados nunca tinham acontecido de fato. O que estava acontecendo, então?
A resposta estava nas fantasias. Freud percebeu que, mais do que eventos concretos, as emoções e fantasias tinham um papel fundamental na construção dos sintomas. Isso não significava que os abusos nunca ocorriam, mas que, em muitos casos, o sofrimento psíquico surgia da complexa trama entre desejos, repressões e interpretações inconscientes. As pacientes não estavam mentindo — pelo menos, não conscientemente. Elas acreditavam naquelas memórias. Isso levou Freud a reformular sua teoria: os sintomas histéricos não vinham apenas de eventos reais, mas de fantasias construídas a partir de desejos reprimidos, medos ou experiências emocionais mal integradas.
Agora, pense no impacto disso. Se nossas lembranças podem ser, em parte, ilusórias, significa que aquilo que afirmamos categoricamente como “minha história” pode conter ficções. Nossa biografia mental não é um diário fiel dos fatos, mas um romance reescrito pelo tempo, pelas emoções, pelos relatos dos outros — como parentes ou pais. E aí vem o pulo do gato: se uma lembrança inventada pode nos adoecer, também podemos usar esse mecanismo para nos curar.
Se podemos adoecer por conta de uma fantasia, também podemos nos curar por meio da ressignificação. A mente humana tem um poder colossal. O cérebro não distingue muito bem entre “realidade” e “imaginação”. Se você revive um trauma na sua mente, seu corpo reage como se estivesse vivendo aquilo de novo. Mas, se você ressignifica a experiência — se escolhe dar um novo significado a ela —, pode transformar sofrimento em aprendizado, medo em coragem, dor em crescimento.
Por exemplo, alguém que cresceu acreditando que “não era bom o bastante” pode, na vida adulta, carregar essa crença como uma verdade absoluta. Mas e se essa história for reescrita? Se, em vez de enxergar isso como uma sentença, a pessoa passar a ver como um desafio superado? Nesse momento, a cura acontece.
No fim, a lição é clara: nossa mente constrói e reconstrói nossa realidade o tempo todo. Podemos ser vítimas das histórias que contamos para nós mesmos — ou podemos ser os autores da nossa própria narrativa.
E então, qual história você escolhe contar para si mesmo? Uma que te aprisiona — ou uma que te liberta?
— Alessander Raker Stehling
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