Em uma conversa com amigos psicólogos e psicanalistas, o tema da religião surgiu e uma pergunta foi levantada: “Qual era a visão de Freud sobre a religião?” As respostas variaram: um afirmou que Freud era ateu, enquanto outro disse que ele criticava duramente a religião em seus livros. No entanto, a discussão ficou superficial e baseada em informações incompletas, o que me motivou a pesquisar mais sobre o assunto por conta própria.
Ao ler trechos de “O mal-estar na civilização” e o ensaio “O futuro de uma ilusão” de Freud, além de analisar parte do livro “Psicanálise e Religião”, de Erich Fromm, percebi a necessidade de discutir a visão de Freud sobre a religião de maneira mais profunda. Vamos explorar esse tema juntos.
Em “O futuro de uma ilusão”, Freud descreve as doutrinas religiosas como ilusões, afirmando que são indemonstráveis e que ninguém pode ser forçado a acreditar nelas. Ele as compara a delírios, devido à sua improbabilidade. No entanto, o que ele quer dizer com o termo “ilusão”? Freud explica que uma crença é chamada de ilusão quando sua motivação central é a realização de um desejo. No entanto, reconheço que essa explicação nos deixa com a “pulga atrás da orelha”, pois ela não é clara. Sendo assim, vamos usar exemplos para esclarecer a visão de Freud sobre a religião.
Como grande admirador de Charles Darwin, Freud acreditava que nos estágios iniciais da evolução humana, os seres humanos não possuíam recursos racionais suficientes para explicar os fenômenos naturais e lidar com seus instintos agressivos. Nessas épocas remotas, os humanos se sentiam desamparados, fracos e incapazes diante das forças da natureza e dos instintos, resultando em medo, ansiedade e insegurança predominantes.
Diante dessas forças perigosas, primitivas e incompreensíveis, tanto internas quanto externas, os seres humanos voltavam-se para estágios infantis e recordavam-se do tempo em que se sentiam seguros com a presença de um pai com sabedoria e poder superiores. Eles conquistavam o amor e a proteção desse pai por meio da obediência e do respeito.
Conforme explicado por Freud: “Como já sabemos, a terrível impressão deixada pelo desamparo da criança despertou a necessidade de proteção — proteção através do amor — fornecida pelo pai; e a compreensão de que esse desamparo continua por toda a vida motivou o apego à existência de outro pai — agora mais poderoso. Mediante a benévola ação da Providência divina, a angústia ante os perigos da vida é atenuada.”
Assim, para Freud, a religião é simplesmente a repetição de uma experiência infantil. Da mesma forma que uma criança incapaz de lidar com um problema corre para os braços do pai em busca de socorro e ajuda, os adultos enfrentam problemas maiores e mais complexos e recorrem a uma força mais poderosa — Deus. Deus desempenha o mesmo papel protetor do pai na infância, fornecendo segurança diante de circunstâncias ameaçadoras, tanto internas quanto externas, que os adultos não conseguem encarar, lidar ou aceitar — como a morte, instintos abomináveis e forças da natureza.
Sob uma perspectiva psicanalítica, podemos considerar a busca pela religião como comparável a uma neurose obsessiva, em que pensamentos repetitivos e intrusivos levam o sujeito a comportamentos compulsivos em busca de alívio ou controle.
Pensando bem, Freud gostava de uma polêmica hein, e sendo bem sincero, eu também.
Agradeço sua atenção e leitura. Um forte abraço.
— Alessander Raker Stehling
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