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  • Foto do escritorAlessander Raker Stehling

O laboratório humano: como somos condicionados através das microdoses de dopamina das nossas telas?

Atualizado: 8 de ago. de 2023

Em 1938, o professor de Harvard e psicólogo B. F. Skinner (1904–1990), realizou um experimento que mudou o mundo para sempre.


Ele colocou roedores numa gaiola fechada, e nela havia uma alavanca. Toda vez que os animaizinhos a puxavam, recebiam um pouquinho de comida — eles adoraram as recompensas e se viciaram. Mas, Skinner não ficou satisfeito e criou variações em seu experimento. Quando acionavam a alavanca, os roedores podiam ganhar pouca, muita, ou nenhuma recompensa. E aí veio a surpresa: essa inconstância no recebimento das recompensas viciava os bichinhos muito mais do que se lhes fossem entregues sempre os mesmos prêmios.


Skinner notou algo muito interessante: era possível alterar o comportamento dos animais sem que eles percebessem. Os capitalistas — obviamente — cresceram o olho nesses experimentos: se era possível alterar o comportamento de um pequeno roedor, também deveria ser possível alterar o de um ser humano. E, não é que eles estavam certos…


Esse teste foi implementado com sucesso através das máquinas de caça-níqueis — sim, igual àquelas em Las Vegas. Essa aleatoriedade louca, produzida por essas máquinas, levam o jogador ao vício de três a quatro vezes mais rapidamente do que outros jogos de azar — inclusive, é por isso que os caça-níqueis são proibidos em diversos países. No entanto, as coisas não pararam por aí.


Todos andamos com um “caça-níqueis” no bolso, os smartphones. Em nossos celulares temos diversos aplicativos que funcionam da “mesma forma” que as máquinas de Las Vegas — ora nos punindo, ora nos recompensando. As moedinhas que ganhamos nos joguinhos, as caixinhas de presentes aleatórias (loot box), e diversas outras recompensas, nos levam ao vício, ao desejo de ganhar aquele item raro ou lendário. Ficamos presos ali, as horas vão se passando, nossa produtividade despenca e depois de muito tempo, damo-nos conta de que perdemos o dia, sem receber nada significativo em nossa jogatina — apesar da reclamação, no outro dia muitos provavelmente faremos a mesma coisa.


Quem dera isso ficasse restrito aos jogos eletrônicos, mas não, esse mesmo sistema (recompensas aleatórias) estão presentes também nos aplicativos de interações sociais. Ao postar uma foto ou vídeo em um destes, você recebe uma quantidade de likes, comentários, compartilhamentos…, essas microdoses de dopamina (diretamente ligadas à aleatoriedade e ao sistema de recompensa cerebral) nos levam ao vício. O cérebro do usuário quer mais dopamina, que sempre é entregue após completar uma tarefa — mesmo que elas sejam idiotas e sem sentido.


O objetivo das gigantes da tecnologia é que passemos mais e mais tempo dentro das suas ferramentas, rolando infinitamente a página do aplicativo. Assim, elas nos exibem anúncios — que são super incômodos — mas que inconscientemente toleramos, em busca da recompensa satisfatória que nunca nos é entregue — algumas poucas vezes eles nos apresentam algo realmente interessante, mas geralmente é só lixo, e é claro, isso é intencional.


As companhias faturam muito assim, para se ter uma ideia, aquele famoso aplicativo de dancinhas (que com certeza você conhece), foi a marca com maior crescimento do mundo em 2021, elevando seu valor 215% em um ano, saindo de US$18,7 bilhões para US$59 bilhões. Tudo isso graças aos otário — digo, usuários.


As pequenas doses de dopamina, que nos são entregues após realizarmos tarefas sem sentido através dos nossos celulares, estão nos viciando como nunca e fazendo com que muitos se afundem em dívidas, procrastinação, depressão, sedentarismo… as empresas de tecnologia sabem do mal que estão causando à população, mas o desejo pelo lucro fala mais alto.


Não se engane, nós, ao realizarmos a missão diária do nosso joguinho favorito e ganharmos moedinhas, ou postarmos um vídeo curto fazendo um movimento ridículo — ataque epiléptico — e ganharmos likes, estamos sendo condicionado através das microdoses de dopamina.


O antigo laboratório de Skinner talvez não exista mais, mas o grande laboratório humano está indo muito bem obrigado. Somos como aqueles ratinhos, mas num experimento piorado. Eles ao menos ganhavam comida de verdade, já nós, trazemos lucros absurdos para acionistas que nunca ouvimos falar, em troca de moedinhas e “joinhas”. É como dizem: “enquanto existir otário, malandro não morre de fome.”


— Alessander Raker Stehling

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Precisamos lhe dar uma pequena dose de dopamina de vez em quando, porque alguém deu like, comentou em uma foto, ou postagem (...) Isso é um circuito de feedback de validação social (...) isso muda a relação de vocês com a sociedade, uns com os outros e provavelmente interfere de maneiras estranhas na produtividade.  - Sean Parker
Precisamos lhe dar uma pequena dose de dopamina de vez em quando, porque alguém deu like, comentou em uma foto, ou postagem (...) Isso é um circuito de feedback de validação social (...) isso muda a relação de vocês com a sociedade, uns com os outros e provavelmente interfere de maneiras estranhas na produtividade. - Sean Parker
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