A “construção” de um soldado não acontece da noite para o dia. Uma pessoa normal não vai para uma guerra. Ela não conseguiria matar o outro, mas caso fosse, ela precisaria fazer isso. Como tornar isso possível? Suprimindo os seus sentimentos, reprimindo a sua humanidade.
Antônio Damásio diz que “somos máquinas de sentir que pensam.” Diante disso surge a pergunta: E se inibirmos os sentimentos afetuosos humanos e estimularmos os animalescos? Desta forma teremos excelentes soldados, certo? Sim, e é isso que é feito.
Eles são treinados longe da família em condições desumanas, passam fome, frio, repetem exercícios exaustivamente, recebem apelidos, sendo estimulados a encararem os da mesma espécie como objetos a serem destruídos. O pai de família japonês agora é o “japa de mer$#”, o alemão honesto e bom amigo é o “n@$i lixo”. O objetivo é bem claro: suprimir o lado humano dos soldados.
Em uma situação de guerra isso é bastante justificável, mas poucos se dão conta de que a sociedade/mercado nos induz a esse mesmo comportamento sutilmente.
Somos estimulados a vencer a qualquer custo, bater metas desumanas, medidos apenas por números, e o nosso valor é atrelado ao salário, modelo de automóvel, ou ao tamanho da casa. A Letícia, filha do Sr. Carlos, é vista como “a loira gostosa do quinto andar”, o trabalhador e empresário Manuel, é chamado de “véio da lancha”. Eles não querem saber da sua história de vida, o que pensa ou sente, mas onde você trabalha, quanto ganha, onde malha e se mora sozinho(a).
O que os “generais” querem é o consumo, o lucro, e para que isso ocorra, o mercado desumaniza as pessoas. Inibem a nossa humanidade desde muito pequenos, e nos transformam em zumbis consumistas. Valemos o que temos, e não o que somos.
No fim, nossos sentimentos humanos são reprimidos, assim como nos soldados. A guerra é outra, como vimos, mas nós e eles somos iguais, pequenas peças substituíveis, sem valor, a serviço de interesses muito maiores (de banqueiros, mega corporações e políticos), que no fim, buscam apenas o poder e o dinheiro.
— Alessander Raker Stehling
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