Estava numa roda de amigos conversando. Papo vai, papo vem, e em dado momento uma pessoa disse: “Eu sou 8 ou 80. Sou intensa demais e nem todo mundo está preparado pra isso.” Naquele momento, várias pessoas se identificaram: “Eu também sou assim.” “Terminei uma relação recentemente porque ela era muito desanimada, e eu, intenso demais.” [...]
Chegou minha vez de expor minha opinião, e fui bastante enfático: ouço constantemente as pessoas dizendo ser 8 ou 80, e estas se julgam “intensas demais”; acham essa fala bonita, que isso é algo valioso, mas não é. Quando alguém diz que é 8 ou 80, em outras palavras, ela quer dizer: “eu sou descontrolada(o).”
Pense comigo: uma “pessoa 8 ou 80” transita entre os polos da euforia e depressão, da paixão e do ódio, ela sente e vive tudo muito intensamente. O meio-termo para ela não satisfaz, esta, busca emoções fortes, intensas e marcantes. Tais pessoas esperam que os outros suportem suas variações bruscas de humor, e, além disso, para se sentirem vivas, precisam sentir tudo “à flor da pele.”
Em minha experiência, percebi que pessoas assim não aprenderam a regular suas emoções na infância. Esse comportamento, “8 ou 80”, ocorre normalmente em quem teve pais negligentes, pais que deixaram os filhos sofrerem intensamente constantemente, que não ensinaram os filhos a se acalmarem. Como exemplo: quando uma criança está chorando copiosamente e recebe um abraço dos pais, ouve destes que “vai ficar tudo bem”, ela aprende com o tempo a se acalmar, a respirar profundamente, abandonar o choro e desespero, consegue se autorregular emocionalmente.
Uma criança que teve pais negligentes normalmente viveu tudo muito intensamente, hora estava muito triste, hora muito eufórica, no fundo, essa criança não aprendeu a se equilibrar emocionalmente, ela não foi ensinada a compreender o que estava sentindo naquele momento, e muito menos a lidar com isso.
Voltando ao assunto... a conversa com meus amigos aquele dia rendeu, muitos reconheceram problemas emocionais com os pais na infância, e alguns decidiram buscar ajuda profissional. Algo positivo, visto que, conviver com alguém desequilibrado(a) é bem difícil, e desgastante.
— Alessander Raker Stehling
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