“Eu não sei como lidar com essa situação, você poderia me dar um conselho?” Quem nunca ouviu um pedido parecido?! Ou talvez tenha sido você a pedir uma ajuda, uma dica, ou um pitaco a algum amigo(a). Psicoterapeutas ouvem isso aos montes, e a maioria deles — torço para que sim — evitam palpitar na vida dos pedintes. Essa postura “evasiva” não é recente, e nos remete a duas pessoas, Sócrates e Freud.
O filósofo Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), bastante conhecido por todos, foi o homem mais sábio da sua época. Era comum as pessoas o procurarem para pedirem conselhos ou ouvirem seus pensamentos. É dele a famosa frase: “Só sei que nada sei.”, e é claro que isso você já sabia, porém, o que talvez não saiba é que ele praticava isso no dia a dia. Como assim?
Sócrates inventou uma técnica de ensino e aprendizado que tinha por nome Maiêutica (do grego “maieutikos”, que significa “dar à luz”, “parir”). Para ele, a verdade está dentro das pessoas, por isso, evitava dar respostas aos seus alunos (e pessoas em geral), preferindo extraí-las deles por meio de perguntas. Em outras palavras: quando alguém pedia um conselho a Sócrates, ele fazia “cara de paisagem”, coçava os poucos cabelos que ainda restavam em sua cabeça, e retornava com uma série de perguntas, de tal forma que a própria pessoa encontrava a resposta, que já estava dentro dela mesma. Essa é a Maiêutica Socrática (a arte de conduzir alguém a produzir o próprio conhecimento por meio de perguntas).
Muitos anos depois surgiu um barbudinho fumador de charutos que usou um método “parecido”; essa pessoa vocês também conhecem bem, seu nome é Sigmund Freud. Vamos deixar que ele mesmo nos conte sobre o seu método: “Assim também fiz com meus pacientes. Quando chegava com eles a um ponto em que diziam nada saber mais, eu lhes assegurava que sabiam, sim, que deviam apenas dizê-lo, e ousava afirmar que teriam a lembrança correta no momento em que eu pusesse a mão sobre sua testa. Dessa maneira consegui, sem recorrer à hipnose, saber dos doentes tudo o que era preciso para estabelecer o nexo entre as cenas patogênicas esquecidas e os sintomas por elas deixados. Mas era um procedimento laborioso, e mesmo extenuante a longo prazo, que não se prestava para uma técnica definitiva.” (Freud, S. 1909-1910).
O que Freud não conta é que seu método era “um pouco” abusivo. Quando o paciente dizia não saber, ou não se lembrar, ele afirmava que sabia, sim. Alegava que era só ele tocar a testa do indivíduo, que, como num “passe de mágica” ele se lembraria. Um belo dia ele apertou tanto a testa da sua paciente, Madame Benvenisti, que ela sentiu “os miolos saindo pra fora", brincadeira, ela sentiu dor de cabeça mesmo. Essa senhora deu uma “comida de rabo” tão grande em Freud, que nunca mais ele colocou os dedos — fedorentos de tabaco — na testa de ninguém. Depois disso adotou o método da associação livre.
A associação livre era “de boa”. Freud se sentava atrás do paciente, que estava deitado em um confortável divã, e pedia que ele relatasse tudo o que viesse em sua mente, sem restrições, sem se preocupar com a lógica ou com a coerência das respostas — cá pra nós, isso é bem melhor que sentir a catinga de tabaco na cara né.
Se Freud se inspirou na Maiêutica Socrática nunca saberemos. No entanto, o que aprendemos com esses dois gênios é que podemos extrair muitas respostas das pessoas de formas simples: fazendo-lhes perguntas e assumindo uma postura “ignorante” — no bom sentido.
Dá próxima vez que te pedirem um conselho, experimente questionar a pessoa, isso mesmo, deixe que ela mesma encontre a resposta. Só não vale colocar os dedos na testa dela; Freud já fez isso, e tomou uma “comida de rabo” daquelas, mas isso ele não conta, né?! Deixa baixo.
— Alessander Raker Stehling
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