“Ame o seu próximo como a si mesmo.” Mat. 22:39. Suponhamos que essa seja primeira vez que vemos isso. Imediatamente surgiria a pergunta: Por que devo fazer isso? O que ganho com isso?
Se olhássemos tal princípio cristão através de um viés antropológico, diríamos enfaticamente: ISSO É UM ABSURDO. É assim porque contraria os nossos instintos básicos, que visam nossos próprios interesses. Além disso, entendemos o amor como algo nobre, sendo assim, nos perguntaríamos: o que o outro fez para merecer o meu valioso amor? Se essa pessoa é um familiar, um amigo, ou alguém especial, é fácil para nós amá-la. “Mas amar um estranho?” “Tá de brincadeira né?!” — talvez falássemos isso.
Vamos além: se esse outro nos é desconhecido, ou estranho, teremos instintivamente medo dele. Sendo mais fácil entregarmos-lhe nossa desconfiança, raiva ou ódio. Sejamos honestos, a última coisa que pensaremos é no amor, pelo contrário, se o estranho tiver um olhar ameaçador, logo cerraremos os punhos ao passarmos do seu lado.
Entretanto, o mandamento é claro: “amai o teu próximo como a ti mesmo.” Se fosse assim: “Ame o outro como ele te ama.”, em nada iriamos reclamar, mas esse conceito de amor universal nos é estranho por natureza.
Biologicamente falando, amar alguém estranho é um absurdo, e culturalmente falando também, visto que, a cultura promove o egoísmo: ao incentivar a felicidade a todo custo, compras por impulso, ostentação dos bens, busca desenfreada pelo prazer…
Percebemos acima as enormes barreiras que devemos superar para considerarmos este mandamento; mas porque eu deveria segui-lo? Talvez você me questione. E eu te digo: devemos seguir esse princípio porque vivemos em sociedade, porque nossa vida depende uns dos outros, porque os recursos terrestres são finitos, ou — de uma forma mais bela e poética — porque amar o próximo nos torna, de fato, humanos.
Amar o próximo é ir contra a nossa própria inclinação, é ter fé, pois motivos para amar os outros nos faltam, é o que nos afasta das feras e do nosso instinto animal. É o ato mais belo que um ser humano pode ter, algo sublime, uma ação que transcende a nossa própria natureza; ou, como diria Friedrich Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.”
— Alessander Raker Stehling
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