Iara afirmou: “Não sei o que sinto, é como se minha cabeça estivesse separada do meu corpo, como se não estivessem ligados. Vivo no escuro, num nevoeiro e não importa o que aconteça, é sempre assim — apatia total, torpor. Tomar um banho quente, ser queimada, ou estuprada, dá no mesmo. Meu cérebro não sente.”
A alexitimia é a incapacidade de descrever o que se sente, de identificar o significado das sensações físicas. Algo bastante comum em crianças e adultos traumatizados.
Podem chorar, mas negam que estejam tristes, podem sentir medo ou terror internamente, mas dizem que está tudo bem. Essa incapacidade de compreender as sensações corpóreas, faz com que percam o contato com suas necessidades, e para pessoas assim, é difícil cuidar de si mesmas. Podem ter dificuldade para comer os alimentos na hora certa e em quantidades adequadas, ou conciliar a dose de sono de que precisam.
Os alexitímicos aprendem a reprimir seus sentimentos para não entrarem em contato com as sensações de horror — normalmente vividas na infância. Consequentemente não identificam o que sentem, e isso inclui sentimentos nobres como a alegria, empatia e o prazer. Muitos dizem que sentem um vazio no interior do corpo, o que reflete a dissociação mente/corpo, sendo o corpo, responsável pela gênese das
emoções, que são interpretadas pelo cérebro.
Traumatizados costumam ter dificuldades para perceber o que se passa em seus corpos, por isso, a reação deles à frustração não tem níveis de intensidade. Normalmente reagem com toda fúria e ódio, ou se “desligam”, demonstrando total embotamento diante de um evento frustrante.
Alexitímicos só conseguem melhorar após aprenderem a entrar em contato — pouco a pouco — com suas sensações físicas e emoções. Mais ou menos como uma criança aprende a escrever as letras do alfabeto.
Infelizmente, a maioria dos que sofrem desse mal, parecem tomar a decisão inconsciente de continuar nesse estado. Na mente destes, é melhor viver assim, do que passar pelo esforço doloroso de enfrentar seus demônios do passado.
“As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma” – Carl Gustav Jung.
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