Não é incomum vermos pessoas por aí com listas cheias de requisitos para um relacionamento, quase como se estivessem procurando um produto perfeito no mercado. De um lado, homens com critérios: “Mulher para mim não pode ter tatuagem, filhos; tem que morar sozinha, ganhar tanto, ser bonita, gostosa, etc.” Do outro, mulheres também com suas listas: “Precisa ganhar tanto, ser bonito tipo fulano, me mimar, ser cavalheiro, ter corpo malhado...” Parece que estamos diante de um processo seletivo para um emprego.
Essas listas infinitas de “preciso que o outro seja assim” refletem um desejo de proteção — um medo disfarçado. O trauma dos relacionamentos anteriores e a ilusão de que existe alguém imune a qualquer defeito levam a essas exigências. Além disso, o marketing do “você é especial, merece só o melhor” gera uma hipervalorização de si mesmos, fazendo as pessoas se acharem dignas de alguém idealizado, perfeito.
Nietzsche, quando fala sobre a busca de um parceiro, vem com uma visão que, para muitos, pode até soar decepcionante. Ele sugere que um bom casamento não se constrói na base da paixão avassaladora ou de uma lista caprichada de qualidades — mas sim, na capacidade de amizade. Porque o que mantém um relacionamento não é o glamour do romance idealizado, mas a qualidade da conexão que ambos são capazes de construir. Ele fala de algo essencial e acessível, mas nada fácil: o talento para a amizade.
Esse “talento” implica empatia, comunicação, respeito e compromisso. A amizade verdadeira é feita de quem escuta — e fala. É feita do interesse genuíno pelo outro, da capacidade de ser generoso, de rir junto e resolver os conflitos sem medo de mostrar vulnerabilidade. Nietzsche não está falando de um conto de fadas; ele se refere a um relacionamento maduro, que tem como base um companheirismo capaz de resistir ao desgaste do tempo e das expectativas.
Ter alguém ao lado, com quem você pode ser você mesmo(a), como em uma grande amizade, talvez seja o maior presente em um relacionamento. O bom casamento é aquele em que ambos caminham lado a lado, rindo, dialogando, enfrentando os desafios com respeito, crescendo juntos — e aí, sim, vivendo o amor real, que nasce da parceria diária e não de uma lista perfeita de atributos.
Quando o amor se constrói com base na amizade, ele tem uma base sólida, com admiração e entrega mútuas. Ele floresce com a cumplicidade e se fortalece nas diferenças que cada um aprende a respeitar. Porque, ao final, amar é isso: encontrar no outro um lar de confiança, um porto seguro onde as almas podem descansar e serem plenamente elas mesmas.
— Alessander Raker Stehling
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