“Eu odeio o Caio, odeio com todas as minhas forças.” — disse Agatha, aos prantos, apertando com tanta força sua latinha de Coca-Cola que a amassou completamente, enquanto conversávamos sentados no banco da praça central da cidade.
“Mas e aí, Agatha, o que você vai fazer com isso que está sentindo? Dá pra perceber que está bem forte, hein.” — perguntei, tentando ser o mais cuidadoso possível, mas a fúria dela era como um rio que transbordava, impossível de ser contido.
“O que eu vou fazer? Na verdade, o que eu queria era vê-lo rastejando, me implorando para voltar, só para sentir todo o meu desprezo. Aí, sim, as traições dele estariam pagas!” — exclamou minha amiga, quase espumando pela boca. Era um misto de dor e desejo de vingança que arrepiava qualquer um.
“Entendo sua indignação e sinto muito. Faz quanto tempo isso, mesmo?” — Eu tentava, de alguma forma, guiá-la para uma reflexão, mas já sabia que seria quase impossível. O ódio que ela sentia era grande demais, a ponto de cegá-la.
“Dois anos!” — respondeu, quase gritando. “Dois anos que aquele ordinário me trocou por aquela biscate do trabalho dele. E sabe o pior? Eles estão felizes. Postam fotos juntos, como se nada tivesse acontecido, enquanto eu... eu...” — Agatha engasgou com as próprias lágrimas.
O silêncio que se seguiu foi profundo. Eu ouvia as folhas das árvores balançarem suavemente, imaginando o turbilhão de emoções e lembranças que borbulhavam dentro dela.
“Agatha, você percebe o quanto isso está te consumindo? Olha só... faz dois anos. Você não merece carregar essa cruz, não merece que ele, mesmo ausente, continue controlando sua vida.”
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, mas depois me olhou com olhos vidrados, vermelhos de choro e raiva. “Você não entende. Esse ódio me mantém viva. É ele que me dá forças para acordar e provar que sou melhor que ele. Eu não consigo viver sem que ele pague por tudo o que me fez sofrer.”
Eu respirei fundo. Sabia que qualquer tentativa de diálogo seria inútil. A mágoa a prendia como uma âncora prende um navio. Ficamos ali, sob o céu estrelado, mas parecia que, dentro da Agatha, havia uma tempestade.
Semanas se passaram, e Agatha continuou mergulhada no ódio. Parou de atender o telefone e de responder às mensagens no WhatsApp. Distanciou-se de todos os amigos. Sentia que ela estava pior a cada dia. Três meses após nossa conversa, a vi de relance dentro de um ônibus. Percebi nitidamente o quanto estava mais magra, mais abatida, cabisbaixa, como se o próprio ódio tivesse começado a devorá-la por dentro.
Ainda penso naquela noite na praça. Tento lembrar do que poderia ter dito ou feito de diferente. Talvez eu tenha falhado como amigo, talvez fosse impossível ajudá-la. Mas uma coisa ficou clara: quando nos deixamos consumir pelo ódio, ele não prejudica quem é alvo, mas quem o carrega.
E foi assim, através dessa constatação dolorosa, que compreendi o que todo mundo diz: “o ódio é um veneno que se toma na esperança de que o outro morra.”
— Alessander Raker Stehling
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