Por Que a Psicanálise Insiste Tanto na Infância? O Poder dos Primeiros Laços
- Alessander Raker Stehling
- há 1 dia
- 3 min de leitura
“Mas por que vocês perguntam tanto sobre nossa infância? Que necessidade é essa?”
Ouvi isso na semana passada de uma paciente que se incomodou com minhas perguntas sobre suas relações parentais. E sei que muita gente tem a mesma dúvida: por que psicólogos e psicanalistas insistem tanto na infância?
A resposta é simples: é lá que tudo começa. Nossa forma de enxergar o mundo, interpretar as relações e reagir às situações nasce dos primeiros laços que estabelecemos — geralmente, com nossos pais ou cuidadores. Essas relações criam um molde invisível que influencia nossas interações ao longo da vida.
Imagine sua mente como um palco onde peças inconscientes se repetem. Os atores? Complexos — conjuntos de emoções e ideias construídas na infância. Se uma criança ouve repetidamente “Você é burro” ao errar, essa voz se torna um diretor cruel que, anos depois, ainda a sabota diante de desafios. O roteiro foi escrito no passado, mas as cenas continuam se repetindo.
E esse diretor interno continua implacável. Ele molda nossas expectativas sobre nós mesmos e sobre os outros. Não importa se seu pai foi presente ou ausente, se sua mãe foi carinhosa ou crítica — de alguma forma, essas presenças (ou ausências) deixaram marcas. Nosso psiquismo registra essas experiências e as transforma em lentes através das quais enxergamos o presente. Assim, podemos reagir a um chefe autoritário como reagíamos a um pai rígido ou evitar vínculos profundos por medo de reviver antigas rejeições.
Esses modelos internos não ficam adormecidos. Eles são ativados sempre que encontramos situações ou pessoas que nos remetem às figuras parentais. Um chefe controlador pode reacender a mesma impotência sentida diante de um pai severo. Um parceiro afetuoso pode gerar desconforto se crescemos em um ambiente frio e distante. Sem perceber, seguimos padrões antigos, mesmo quando já não fazem sentido.
Para ilustrar, imagine duas crianças. Uma cresce sob um olhar atento e amoroso e desenvolve um senso de valor próprio mais forte, pois aprendeu que suas emoções importam. Outra, exposta a críticas constantes, carrega uma voz interna que reforça a sensação de nunca ser suficiente. Na vida adulta, pode ter dificuldade em se sentir amada e reconhecida, mesmo quando recebe carinho e elogios. Esses padrões inconscientes são os chamados complexos parentais — estruturas psíquicas que condicionam nossa forma de nos relacionarmos com o mundo.
E é por isso que investigamos a infância. Muitas das nossas dores na vida adulta não surgem do presente, mas são reflexos do passado.
A dificuldade de confiar em alguém, o medo de ser abandonado, a necessidade de agradar o tempo todo — tudo isso costuma ter raízes antigas. Mas reconhecer essas influências não significa se prender ao passado ou culpar os pais. Pelo contrário: significa compreender o que nos formou e, principalmente, transformar o que já não nos serve. Esse é o processo que chamamos de ressignificação.
O autoconhecimento é, no fundo, um ato de liberdade. Quando entendemos as dinâmicas que nos construíram — sobretudo as parentais —, ganhamos a chance de reescrevê-las.
Então, da próxima vez que um terapeuta perguntar sobre sua infância, abrace a oportunidade. Afinal, olhar para trás, muitas vezes, é a única maneira de seguir em frente.
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.” — Søren Kierkegaard
— Alessander Raker Stehling
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