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  • Foto do escritorAlessander Raker Stehling

Por que algumas pessoas preferem o caos à paz? A psicologia por trás da busca por emoções intensas

Amanda terminou de novo. Eu já deveria esperar isso. Quando Fernando me ligou aos prantos naquela noite, quase como um déjà-vu, soube exatamente o que estava por vir. A desculpa era a mesma de sempre, não mudava. Ele é “certinho demais”, “normalzinho demais”. E o mais curioso é que, no fundo, nem era ele o problema. Era o que ele não conseguia oferecer a ela: aquela adrenalina, aquele caos que Amanda, sem perceber, ansiava tanto.


“Falta emoção, Alê, falta aquele frio na barriga, entende? Quando o coração parece que vai sair pela boca.” Isso que ela disse estou ruminando aqui na minha cabeça. E eu entendo, claro que entendo, mas não da mesma forma que ela. O que Amanda chama de “emoção” é algo muito mais complexo. Uma busca incessante por algo que a faça sentir viva, que diferencie um dia do outro. Só que esse vazio… ele tem raízes muito mais profundas do que ela imagina.


Desde que a conheço, percebo essa insatisfação constante. Nada parece ser suficiente. E a cada relacionamento, a cada nova tentativa, ela acaba repetindo o mesmo ciclo. Fernando, o mais recente, é só mais um exemplo entre tantos outros. Alguém que, para ela, representa estabilidade, previsibilidade… e isso, para Amanda, é sinônimo de tédio.


Mas por quê? Por que essa necessidade de que tudo seja sempre uma montanha-russa de emoções? A resposta, eu acho, está lá atrás, na infância dela. Amanda nunca teve uma base segura, um chão firme para pisar. Cresceu em um lar onde o caos era a única constante. O pai, alcoólatra, oscilava entre momentos de afeto e acessos de fúria. A mãe, sempre ausente emocionalmente, tentando sobreviver ao próprio sofrimento, nunca conseguiu oferecer à Amanda o carinho e a estabilidade de que ela precisava.



Então, desde cedo, Amanda aprendeu que o amor e a atenção vinham com intensidade, com altos e baixos. O silêncio, a calma… ela interpreta como sinônimo de abandono, de falta de interesse. E agora, adulta, ela se vê repetindo esse padrão, buscando a excitação e o caos para preencher o vazio que carrega desde a infância. Ela se acostumou tanto ao desequilíbrio que, quando encontra paz, sente um desconforto enorme — parece que vai morrer.


Fernando, com seu jeito calmo e previsível, oferecia justamente o que Amanda nunca teve: tranquilidade. Mas essa tranquilidade se transformou, na mente dela, em algo sufocante, em tédio. Ela não sabe lidar com a calmaria. O coração dela, que sempre esteve preparado para tempestades, se sente perdido em meio à paz. E é aí que vem a necessidade de “mais emoção”.


O problema é que essa busca insaciável por adrenalina é uma armadilha. Ela não preenche, só distrai temporariamente. O buraco que Amanda carrega é muito mais profundo — tipo um buraco negro —, mas ninguém nunca a ensinou a lidar com isso. Talvez porque, para enfrentar esse vazio, seria necessário encarar os próprios traumas, as próprias dores. E isso, sim, é uma tarefa dolorosa e complicada.


Agora, enquanto penso sobre tudo isso, me pergunto: até quando Amanda vai continuar nesse ciclo? Até quando a necessidade de excitação vai prevalecer sobre o desejo de se sentir amada, de conexão? Entendo o que ela sente, entendo o vazio que a consome, mas não posso deixar de temer o que o amor representa para ela. Um dia, talvez, ela encontre alguém que lhe ofereça exatamente o que tanto busca — emoção, intensidade —, mas não será amor. Será mais uma chama que arde forte e se apaga rápido, deixando apenas cinzas. E, nesse instante, ela vai olhar para trás e perceber que o amor verdadeiro esteve ao seu lado o tempo todo, na calma, na constância… mas ela não soube reconhecê-lo. E o pior de tudo é que, quando isso acontecer, será tarde demais para dar valor.


— Alessander Raker Stehling

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“O tédio é basicamente um desejo frustrado de que ocorra algo, não necessariamente agradável, mas tão somente algo que permita à vítima do tédio distinguir um dia do outro. Em suma, o contrário do tédio não é o prazer, mas a excitação” - Frases Bertrand Russell
“O tédio é basicamente um desejo frustrado de que ocorra algo, não necessariamente agradável, mas tão somente algo que permita à vítima do tédio distinguir um dia do outro. Em suma, o contrário do tédio não é o prazer, mas a excitação” - Frases Bertrand Russell

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