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Psicanálise na Prática: Um Caso de Transferência e Inseguranças Amorosas

Foto do escritor: Alessander Raker StehlingAlessander Raker Stehling

Desde a nossa primeira sessão, percebi algo diferente na Juliana. Era impossível não notar sua presença marcante. Vaidosa, cabelos sempre impecáveis, um perfume doce que ficava no ar mesmo depois que ia embora. Sua maneira de falar, de se sentar, de me olhar, tudo carregava um tom de provocação misturado com um pedido latente de atenção.


— Doutor, não dá. Tá insalubre gostar de homens. Por qualquer coisinha terminam. E olha que nem gosto de molequinhos, viu? Gosto de homens, mais velhos, com barba, elegantes, como você assim, todo boni… ops, perdão. — Ela sorriu de canto, como quem se diverte ao testar limites.


— Parece que você se sente frustrada com seus relacionamentos. O que mais te incomoda neles? — perguntei, mantendo o tom neutro, observando-a.


Ela fez um bico infantil, jogando-se no sofá como se fosse uma adolescente contrariada.


— Eles são egoístas! Só querem saber deles, do trabalho, dos amigos… e eu? Eu fico lá, chupando o dedo. Se mando mensagem e não respondem rápido, já me dá um troço. Me sinto… jogada para escanteio, você me entende?


— Como se estivesse sendo abandonada? — sugeri.


Ela me olhou fixamente, como se minha pergunta tivesse tocado em partes profundas dentro dela. Respirou fundo, cruzou os braços, fez uma careta e depois descruzou.


— Talvez… é. Eu detesto essa sensação. Odeio quando me ignoram, quando parecem que têm coisa mais importante pra fazer do que ficar comigo. Olha pra mim, sou jovem, bonita, vaidosa, cheirosa… se você namorasse comigo, iria me deixar em casa para ficar junto com seus amigos?



Ignorei a provocação e continuei.


— E você se sente ignorada desde quando? — perguntei.


Ela mordeu o lábio inferior, desviando o olhar por um instante.


— Sei lá. Acho que desde sempre. Minha mãe trabalhava muito, quase nunca ficava em casa. Meu pai… bom, ele largou a gente quando eu tinha uns cinco anos. Mas tudo bem, né? Cresci, superei, vida que segue. — Deu de ombros, mas sua voz traiu a leveza que tentava fingir.


— Cresceu, mas sente a falta dele até hoje? Talvez esteja tentando preencher esse vazio nos seus relacionamentos, buscando em homens mais velhos algo que nunca teve… — deixei a frase incompleta de propósito.


Ela arregalou os olhos e abraçou firmemente o travesseiro do sofá, como se sentisse vulnerável.


— Nossa, doutor! Tá me chamando de menininha carente? — brincou, mas havia um traço de verdade misturado na brincadeira. Ela abaixou o olhar e passou a mão no cabelo, como se tentasse organizar os pensamentos. — Tá, talvez eu seja… só um pouquinho. Mas quem gosta de ser ignorada, me diz?


— Ninguém gosta, Juliana. Mas algumas pessoas lidam melhor com isso do que outras. E o que estou tentando te mostrar é que essa angústia pode não ser só sobre os homens que você namora, mas sobre algo mais antigo, mais profundo.


Ela ficou em silêncio por alguns instantes. Depois, se inclinou um pouco para frente, me olhando nos olhos.


— E se for isso mesmo? O que eu faço? Porque, sinceramente, tô cansada de arrumar homem frouxo. Fico na cola desses panguás só pra depois me sentir um lixo. Ninguém merece.


— O primeiro passo é exatamente esse: perceber o que está acontecendo. E você já fez isso. Agora, o segundo é separar o presente do passado. Seu futuro namorado não é o seu pai. Suas relações de hoje não precisam repetir as dores de antes. Com o tempo, vamos entender melhor essa insegurança, reconhecer seus padrões inconscientes e ampliar seu autoconhecimento. E, mais do que tudo, construir relações que realmente te façam bem — que tragam segurança, não angústia.


Juliana suspirou e encostou a cabeça no encosto do sofá.


— Isso vai ser difícil, né?


— Crescer emocionalmente sempre é, Juliana. Mas vale a pena.


Ela abriu um pequeno sorriso, diferente dos outros que já havia dado. Não era provocador, não era irônico. Era o sorriso de alguém que, pela primeira vez, começava a enxergar algo além do próprio reflexo.



— Alessander Raker Stehling

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“[...] as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência.” Frase Freud
“[...] as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência.” Frase Freud

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