“Ah, como eu queria acordar e esquecer o meu nome!”, foi assim que meu amigo, Dr. Marco, começou uma conversa que mudaria para sempre a forma como vejo o mundo.
“Como assim, Marco? Você é um dos maiores cirurgiões da América Latina! Seu nome carrega respeito, admiração...”
Ele sorriu, um sorriso meio triste, confesso, e respondeu:
“Você disse algo interessante. Quando me levanto, sei que meu nome é Marco. Sei que ele foi inspirado no Imperador Marco Aurélio, um filósofo estoico que meu pai admirava. Sei da carga emocional, das expectativas, do peso, do legado. Em suma, sei tudo o que se espera de mim. Mas já parou para pensar no que eu espero de mim mesmo?”
Fiquei em silêncio, mas ele continuou:
“É simples. Se nada disso existisse, se eu pudesse esquecer as expectativas, os títulos, os desejos que projetaram sobre mim, então eu seria livre para descobrir o que nunca tive coragem de explorar. Talvez eu aprendesse a pintar, a dançar tango, ou apenas a caminhar descalço na areia sem me preocupar com o próximo grande feito. Eu viveria a partir de mim mesmo, não das expectativas de um nome ou de um título. Não seria mais o 'Dr. Marco'. Apenas Marco. Ou quem sabe Bruno, Gabriel... algo que brotasse de mim, do meu íntimo.”
Enquanto ele falava, comecei a ficar pensativo, como nunca antes havia ficado. Todos nós, em maior ou menor grau, carregamos nomes, rótulos e narrativas que nos moldam desde o nascimento. O pai que sonhou com um médico na família. A mãe que esperava um filho pastor. A sociedade que nos ensinou o que é “sucesso”. Não somos apenas nós; somos a soma de todas essas expectativas.
E ainda assim, a pergunta dele me assombrava: “Quem seríamos, se pudéssemos nos despir de tudo isso?”
A verdade é que fugir completamente dessas marcas é impossível. Afinal, nossa identidade é o que nos permite navegar no mundo. Mas o que Marco propunha não era apagar quem somos, e sim revisitar. Duvidar, como Descartes sugeriu, de tudo o que nos ensinaram. Raspar as camadas de tinta que foram pintadas sobre os nossos sentidos e começar a explorar aquelas “gavetas trancadas” que todos temos dentro de nós.
Sim, isso assusta. Requer coragem para abraçar o vazio, a incerteza. Mas também traz uma promessa: a de encontrar algo novo e genuíno. Algo que não é reflexo das expectativas dos outros, mas da nossa própria essência.
Naquele dia, Marco alugou um triplex na minha mente. Até hoje, me pergunto:
O que restaria de mim, se eu pudesse raspar todas as camadas que me pintaram?
— Alessander Raker Stehling
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