Acordei esses dias pensando em visitar a Camila, fazia tempo que não nos víamos. Eramos bastante amigos, mas acabei perdendo o número dela ao trocar de telefone. Lembro de ter visitado o local em que ela e o noivo Marcos iriam morar. Peguei o meu carro e fui em direção a casa, que era em outra cidade, próxima à minha.
Já na estrada, ouvindo um rock clássico, estava relembrando nossas conversas. Camila era uma moça alegre, cheia de energia, ela amava dançar, curtia um forró, um funk e com ela não tinha tempo ruim, estava sempre reunindo a turma da escola e fazendo uma farra, bons tempos.
Ela tinha me contado na época que Marcos não gostava de suas roupas. Ela adorava um top, bermuda jeans, rasteirinha, já ele odiava isso, achava que era coisa de pobre. Ela falou também que ele se incomodava com sua forma de rir e falar, além de não gostar que bebesse cerveja, ela amava... é, eu me lembro que na última vez que nos vimos no shopping ela estava bem diferente, calada, com um copo de suco na mão, vestido longo, salto alto, bem maquiada, mas com o rosto triste.
Antes de perder meu celular estávamos nos falando, ela havia dito que iria tentar mudar seu jeito de vestir, não iria mais beber e nem dançar, que ele era o grande amor da vida dela, e sua família o adorava, que estavam com a data marcada pro casório. Tentei questioná-la, mas sem sucesso, ela dizia que quem ama faz de tudo pelo outro, até mudar o jeito de ser.
Tava pensando nisso durante o trajeto, será que vale tudo por amor? Sei lá, mas tudo bem, se a Camila estava feliz assim, quem sou eu pra questionar. Já estava perto da casa deles, faltavam duas esquinas.
Cheguei, ufa, vou bater no portão. Nossa, mas que música alta, estava tocando Zé Vaqueiro no talo. Será que é essa casa mesmo? Conferi o número e para minha surpresa era essa mesmo. Resolvi bater no portão.
Camila nem acreditou quando me viu por entre as grades, ela estava como nos velhos tempos, com um top e bermuda jeans rasgada, e veio logo gritando, correndo, quase escorregou e abriu o portão aos berros:
— “Ei Camila saudade demais de tu, como você está?” perguntei enquanto nos abraçavamos.
— “Estou ótimaaaaaaaaa, e você meu amigo sumido, tentei te chamar no telefone, mas não consegui. Pensei que tinha me abandonado uai” ela me disse.
— “Eu perdi o telefone, desculpa. Também estava com saudades e resolvi vir pessoalmente visitar vocês. Mas cadê o Marcos?” surrurrei neste momento.
— “Marcos? Que Marcos?” — ironicamente ela falou.
Neste momento fiquei sem entender e ela seguiu falando.
— “Terminei tudo com aquele babaca e agora moro aqui sozinha e estou muito mais feliz. Sabe, eu aprendi que o amor não vale a pena se não pudermos ser nós mesmos.”
Naquele momento lembrei do que estava pensando no carro e respondi pra Camila: “É, quem ama gosta da gente do jeito que a gente é.”
— Alessander Raker Stehling
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