top of page

Respeito é Deixar o Outro Ser Como É’ – A Lição Que Um Pai Aprendeu Com Seu Filho

Foto do escritor: Alessander Raker StehlingAlessander Raker Stehling

— Tec! Tec! Tec! Tec! Tá na hora de levantar, hoje o dia vai ser corrido. Bora, deixem de moleza! — bradou Sandro, batendo a colher na panela.


Ainda zonzo, puxei o travesseiro sobre a cabeça. “Ô trem doido! Esse homi num tem dó de ninguém, não?” Sabia da criação militar de Sandro, mas não esperava ser acordado às seis da manhã — e em pleno Carnaval! Fiquei puto, mas dexei quieto.


Ouvi uns trecos estranhos vindo do outro quarto. Era Matheus, filho do Sandro, provavelmente querendo se esconder debaixo da coberta, assim como eu queria.


— Bão, soldado Sandro. — resmunguei, tentando num mandá ele praquele lugar.


— Disciplina! O mundo não é lugar pra gente mole. Você e o menino têm que aprender a ser fortes.


“Menino”, no caso, era Matheus: 15 anos, magro, de óculos, apaixonado por livros e programação. Mas ali, na casa de Sandro, parecia uma carta fora do baralho.


Depois do café, vi Matheus no quarto, os dedos ágeis no teclado, a tela cheia de códigos.


— Mandano vê nos trem aí, hein? — perguntei.


— É o que eu gosto…


— Seu pai sabe disso?


Ele suspirou.


— Sabe, mas acha que isso é besteira. Quer que eu faça mesmo é jiu-jítsu, natação, surfe… diz que preciso ser “durão”. Mas eu gosto é disso aqui.


Na tela, rodava um jogo que ele estava programando.


— Isso faz sentido pra mim, entende? Mas meu pai não me escuta.


Fiquei em silêncio. Eu conhecia Sandro. Sempre foi sistemático e via o filho como um futuro militar.


— Já proseô cum ele?


Matheus riu, meio sem graça.


— Ele ri e diz que “homem tem que saber lutar”. Então… eu só vou. Faço os treinos, mas nem gosto, sabe?


Eu precisava falá cum Sandro. Mas do meu jeito. Mineiro num aponta o problema, ele rodeia, come quieto.


À tarde, na varanda, trouxe um pedaço do queijo minas que comprei pra ele de presente, com um cafezim coado na hora. Pensei: isso acarma qualquer um, é tiro e queda.



— E o Matheus, hein? O bichim tá bão no trem.


Sandro bufou.


— Esse moleque precisa de mais sol na cara. Isso não é vida! Tá vendo esse braço? — Flexionou o bíceps. — Isso aqui é treino. Você acha que um homem se faz sentado, digitando?


— Uai… E o Bill Gates?


— Bill Gates não conta. Ele é exceção. A regra é que, sem força, você não sobrevive. O mundo é cruel!


Fiquei um tempo olhando o coqueiro e um bando de crianças brincando na areia. Respirei fundo e disse:


— Sandro, dêxa eu te falá um trem aqui. Ocê se orgulha da vida que levou, num é?


— Com certeza. Trabalhei duro pra chegar onde estou.


— E se alguém tivesse te obrigado a seguí otro caminho? Um que num fosse o seu? Como cê ia se sentí?


Ele franziu a testa.


— Como assim?


— Se seu pai tivesse dito procê sê artista, que tinha que pintá uns trem em vez de entrá pro exército, como seria?


Ele riu.


— Eu teria achado um bisurdo, como diz você!


— Uai, e se ele insistisse? Se colocasse ocê em aula de pintura, sem nem te ouvi?


Ele parou por um instante. Olhou para o mar, depois pra mim.


— Bom… acho que teria sido frustrante.


Aí estava.


— Sandro, ocê criô um filho forte. Mas força num é só músculo não. Respeitá alguém também é dexá que a pessoa cresça do jeito dela. O Matheus num é um soldado. Ele é um programador. E ele pode sê o mió que tá tenu, se ocê dexá.


Sandro ficou quieto.


— Ele nunca me disse isso desse jeito…


— Deve sê porque ocê num escuta direito o minino; com esse seu jeito mei doido, só pode.


Ele suspirou.


— Eu… vou tentar.


Nos dias seguintes, notei mudanças. Sandro começou a perguntar sobre os códigos que Matheus escrevia. Até o vi ouvindo o filho explicar algo sobre inteligência artificial.


Num sei se o trem deu bão ou não, mas ali, algo havia mudado naquele grandalhão. Talvez, aos poucos, aprendesse que respeito num era moldá alguém à força, mas ajudá ele a sê o mió de si.


E eu? Ainda tava puto por tê que acordá todo dia às seis. Mas aquela missão… eu considerava cumprida.


— Alessander Raker Stehling

📚 Transforme sua vida com 3 E-books Essenciais para o seu Autoconhecimento.


☑ Aprenda Psicanálise de forma Simples e Fácil. Clique no link e conheça o nosso curso ➜ https://www.psicanalisefacil.com.br/curso-psicanalise-facil


“Respeito significa a preocupação de que a outra pessoa cresça e se desenvolva como é.” Frase Erich Fromm
“Respeito significa a preocupação de que a outra pessoa cresça e se desenvolva como é.” Frase Erich Fromm

Comments


Psicanalise Fácil Branca Png.png
Logo Whatsapp

Atendimento 

Seg. a Sex.

9H às 18H

Siga Psicanálise Fácil

  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn

©2025 por Psicanálise Fácil. Todos os direitos reservados.

bottom of page