Ontem, ao observar os filhos do meu amigo, notei algo que me fez refletir bastante: a nossa dificuldade em lidar com experiências desagradáveis.
Ele tem dois filhos, Arthur, de cinco anos, e Bernardo, de dois. Eles estavam brincando e, sem querer, o mais velho esbarrou num pote de plástico, derrubando todas as jujubas no chão. Quando a mãe notou a bagunça, perguntou quem havia feito aquilo, e o mais velho apontou para o mais novo e disse: “Foi ele, mamãe, foi o Bernardo.” Já o Bernardo, aparentemente sem entender nada, começou a chorar, sendo consolado posteriormente. Isso me fez pensar sobre a dificuldade das crianças em lidar com a culpa e frustrações.
As crianças continuaram brincando e, enquanto isso, eu as observava atentamente. E foi aí que, de repente, me veio à mente um pensamento e percebi como nós, adultos, somos mestres em nos afastar da responsabilidade, em nos esquivar das consequências dos nossos atos, como Arthur fez.
Assim como o filho mais velho, nós também estamos prontos para apontar o dedo e transferir a culpa para o outro, para qualquer um que não seja nós mesmos. “Foi ele”, “foi ela”, “não fui eu” — são palavras que ecoam em nossa sociedade, uma tentativa desesperada de nos isentar de qualquer culpa, de qualquer falha.
E o pior é que muitas vezes nem mesmo nos damos conta disso; lá estamos nós esquivando-nos como o Arthur e culpando o Bernardo, que chorava sem entender por que estava sendo acusado injustamente — quantas vezes não fazemos o mesmo com os outros? Vivemos em um ciclo vicioso de negação e rejeição da responsabilidade, alimentando um inferno pessoal onde os outros são os demônios que nos assombram.
E à medida que os anos passam, esses comportamentos, pelo visto, se cristalizam, tornando-se parte de quem somos. Não é isso que mais vemos? Adultos hipócritas, cínicos e egoístas, incapazes de reconhecer os próprios erros e, consequentemente, incapazes de mudar.
Esse comportamento irresponsável em crianças é até “bonitinho”, mas em adultos é deplorável. Percebo que muitos de nós crescem fisicamente falando, mas permanecem mentalmente congelados naqueles padrões defensivos infantis.
Enfim, sou forçado a constatar que, enquanto a humanidade não sair das fraldas, psicologicamente falando, estaremos fadados a permanecer em um mundo cruel, injusto e irresponsável. E essa constatação, tristemente, parece ser o destino que nos aguarda. Afinal, como dizem por aí: “a culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser.”
— Alessander Raker Stehling
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