Ainda me lembro da pergunta do meu colega de classe, naquela noite fria: “Professor Carlos, como poderei eu, como terapeuta, atender criminosos, pervertidos, masoquistas ou psicóticos? Não tenho capacidade para isso.” Ele, com sua voz grave e calma, respondeu citando Terêncio de dois mil anos atrás: “Sou humano: nada do que é humano me é estranho.”
O professor Carlos nos exortava a estarmos abertos para aquela parte de nós mesmos que corresponde a qualquer ação ou fantasia trazida pelos pacientes, não importa quão hedionda, violenta, lasciva, masoquista ou sádica. Afinal, essas experiências, por mais perturbadoras que sejam, fazem parte da condição humana. Talvez julguemos nossos pacientes com um olhar moralista, mas se conseguirmos colocar isso de lado, poderemos começar a sentir e compreender — mesmo que parcialmente — o que eles sentem. Todas as experiências humanas, boas ou ruins, estão impressas em nosso DNA, compartilhadas por todos nós.
E foi naquele dia que aprendi que a empatia é a chave para essa compreensão. É a empatia que nos permite enxergar além dos atos e das palavras, alcançar o coração e a mente dos nossos pacientes. Ao reconhecer que todos somos humanos e que nada do que é humano nos é estranho, conseguimos criar um espaço seguro e acolhedor para nossos pacientes. Eles precisam saber que não estão sozinhos, que suas experiências, por mais sombrias que sejam, fazem parte da vasta tapeçaria da condição humana.
No final, o que nos une é nossa humanidade compartilhada. Somos todos feitos das mesmas emoções, medos e desejos. E é através da empatia que conseguimos transcender nossos julgamentos e verdadeiramente ajudar aqueles que buscam nossa orientação.
A lição que tirei naquele frio dia me foi clara: ao abraçar nossa própria humanidade, podemos oferecer aos nossos pacientes a compreensão e o apoio de que precisam. Pois, no fundo, todos nós, terapeutas e pacientes, somos humanos. E nada do que é humano nos é estranho.
— Alessander Raker Stehling
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