Você que é psicólogo ou psicanalista, já teve que lidar com o sumiço repentino de um paciente? Aquele que parecia tão animado com o processo, mas, de repente, desaparece como aqueles ninjas de filme — deixando apenas a fumaça no ar? E você, que faz terapia, já abandonou as sessões sem explicação, talvez sem nem saber ao certo o porquê?
Freud já falava sobre isso e, como sempre, suas experiências são reveladoras. Em seu texto Recordar, Repetir e Elaborar, ele descreve o caso de uma senhora que vivia “fugindo” de casa sem qualquer motivo aparente, sempre em estado de semiconsciência. Ela iniciou o tratamento com uma transferência afetuosa — aquele vínculo intenso que todo terapeuta reconhece — mas, em questão de dias, repetiu sua velha história: fugiu. Não do marido, dessa vez, mas do próprio Freud.
Essa fuga não era casual. Ela repetia algo profundamente inscrito em sua psique: provavelmente uma neurose ou trauma de abandono. A transferência, que inicialmente parecia positiva, desencadeou medos antigos. Afinal, se relacionar profundamente com alguém pode ser tão assustador quanto reconfortante, especialmente para quem viveu experiências de rejeição ou negligência. Essa ambiguidade é algo que, sabemos, não é fácil de lidar.
Essa dinâmica é comum em pacientes com histórico de apego evitativo ou traumas relacionados ao abandono. Eles desejam conexão, mas, ao sentir-se próximos demais, ativam um alarme interno: “E se isso terminar? E se me machucar de novo?” A saída, quase automática, é o afastamento. Não porque não gostem do terapeuta ou do processo, mas porque inconscientemente acreditam que, se partirem antes, pouparão a si mesmos de uma dor ainda maior. Para quem sempre se sentiu abandonado, sair de cena antes que isso ocorra parece uma forma de proteção.
Mas e nós, terapeutas? Como lidar com essas histórias que, às vezes, se repetem na relação terapêutica?
Freud deixou a pista: antecipar o movimento. Falar diretamente, mas com sensibilidade, sobre essa compulsão é um passo importante. É necessário nomear o padrão, mas sem julgamento — como quem oferece um espelho ao paciente para que ele veja, talvez pela primeira vez, aquilo que o tem guiado sem que ele perceba.
Outra estratégia é manejar a transferência com acolhimento e firmeza. Mostrar que você não está ali para abandonar o paciente, mesmo que ele tenha necessidade de se afastar por um tempo. Muitas vezes, dizer algo como:
— Eu percebo que pode ser difícil para você continuar… Quero que saiba que, mesmo que sinta necessidade de se afastar, estarei aqui quando decidir voltar.
Essas palavras, simples, têm o poder de romper ciclos. Ao oferecer constância, o terapeuta começa a construir no paciente a possibilidade de experimentar uma nova forma de se relacionar — uma que não precisa terminar em fuga.
Se você é terapeuta e já passou por isso, saiba que não é uma falha sua. É parte do processo, e lidar com essas repetições é também um convite à paciência e à empatia. E se você, paciente, já se viu nesse papel de “fujão”, talvez seja hora de refletir: será que não está repetindo velhas histórias que já não precisam mais ser contadas? A coragem de retornar — ou de permanecer — pode ser o início de um novo capítulo, onde abandono dá lugar à conexão e fuga, ao encontro.
Pense nisso!
— Alessander Raker Stehling
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