Caro Dr. Freud.
Faz alguns anos que o Sr. Nos deixou, e eu gostaria muito de ter trocado ao menos uma correspondência contigo. Como nascemos em épocas distintas, estou lhe escrevendo esta carta postumamente.
O Senhor lançou luzes no abismo do inconsciente. Esse “reservatório” de sentimentos, pensamentos, impulsos e memórias tão vivo e borbulhante, que emerge de tempos em tempos apresentando conteúdos impressionantes a cada um de nós.
Muitos, assim como eu, são gratos ao Senhor. Creio que ficaria surpreso ao perceber quantos te admiram e estudam seus ensinamentos. Psicólogos, filósofos, psicanalistas, psiquiatras, pedagogos, neurocientistas..., são tantas áreas que o Senhor influenciou, que nem tenho como lhe informar. E por falar em neurociência, muitas das teses do Doutor foram confirmadas por ela, imagino que gostaria de se aprofundar nesta área caso estivesse presente em nossos tempos.
Relembro que em seu livro “o mal-estar na civilização” o senhor, como um profeta nos alertou: “A meu ver, a questão decisiva para a espécie humana é saber se, e em que medida, a sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas à vida em comum pelos instintos humanos de agressão e autodestruição.”
Infelizmente, grande Freud, parece que não aprendemos nada sobre esse assunto. Os instintos cruéis, de agressão e autodestruição afloraram tão ferozmente em nossos tempos que corremos elevado risco de extirparmos nossa própria espécie do planeta. Travamos inúmeras batalhas sanguinárias desde que o senhor nos deixou e nos entregamos ao princípio do prazer. Temos medo de encararmos a realidade monstruosa humana, e criamos imersões fantásticas para fugir do confronto com nossos demônios internos.
Como o Senhor bem disse há tantos anos, somos a nossa maior ameaça, e ao que tudo indica, teremos o mesmo fim que as inúmeras espécies que eliminamos deste planeta. A civilização não nos ajudou a evoluir, mas apenas deu ao homem coragem para viver intensamente o seu lado animal.
A luta entre a vida e a morte continua, mas creio que já temos o grande vencedor.
O Sr. faz falta em nossos dias. Descanse em paz.
Cordialmente.
Alessander Raker Stehling.
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