“Cara, por que você não chuta o balde e vai viver a sua vida, o seu desejo?” Essa foi a última pergunta que fiz para o André, meu amigo de infância. Mas antes de fazê-la, nós conversamos muito.
Às 3 da manhã, após a ceia de natal, o meu telefone tocou. “Cara, tá fazendo o que aí? Bora abrir um espumante aqui em casa e trocar uma ideia?!”, André me convidou. “Uai, terminei agora de jantar com minha família, vou dar uma passada aí.”, respondi o convite. Imaginei que André estivesse com sua família, mas ao chegar em sua casa me deparei com outra situação.
Ele estava sozinho na sala, e eu logo lhe indaguei: “Cadê sua esposa Ana e suas filhas?” “Elas passaram na casa da minha sogra, eu não quis ir, tô puto com as mentiras daquele cobra.”, falou ele “espumando pela boca”.
“Pelo que sei, mês passado você e sua sogra estavam jantando, o que aconteceu de lá pra cá?”, perguntei. “Cara, você não sabe o que ocorreu; diz ela que me pegou saindo de um motel com um rapaz. Contou pra minha esposa, e tá sendo um inferno tudo isso.”, ele disse. “Peraí, sério isso cara? Sei que você é muito respeitado, pastor em sua igreja, tem uma imagem impecável entre os fiéis. Como que ela ousou falar isso?”, falei indignado. “Eu neguei tudo pra ela, disse que nessa hora estava em sua casa.”, ele se defendeu e continuou. “Cara, é por isso mesmo que te chamei aqui, eu tô me sentindo culpado, pois usei seu nome nessa bagunça minha, olha, me desculpa, eu não queria te colocar nisso, mas fiquei sem jeito na hora.” “Como assim? Fiquei confuso agora. Era você saindo do motel ou não?”, questionei. “Não posso esconder de você meu amigo, era eu mesmo, sinto muito se te decepcionei.”, disse ele após dar uma golada generosa em seu espumante. “Tudo bem amigo, a vida é sua e eu não tenho nada com isso, inclusive, agradeço por se sentir confortável em me contar sua intimidade.”, após isso, fiz o questionamento lá do início, o que abro essa relato.
André coçou a cabeça, ficou pensando e me disse: “Cara, veja bem, não posso chutar o balde, tenho uma reputação na igreja, casa, carros, minha esposa, filhas, uma família né?! Além disso, sou muito respeitado na sociedade. Imagine só; ficarem sabendo que eu, na verdade, gosto de homem e não de mulher. Deus me livre, eu iria perder muito com isso.” “Mas você teria liberdade para viver o seu real desejo, e, além disso, não estaria enganando a sua família que tanto ama. A minha amizade e apoio você sempre terá.”, disse isso a ele. “Agradeço de coração por sua amizade, você é um parceirão, mas não posso fazer isso, só te peço para não revelar esse meu segredo para ninguém, fica entre nós ok?!”, ele me pediu encarecidamente.
Antes que eu pudesse dar minha palavra, o interfone da sua casa de dois pavimento tocou, era sua esposa e filhas regressando da ceia de natal. André tocou o indicador nos lábios, como que pedindo silêncio, eu acenei que tudo bem, e me dirigi à porta de entrada, para recepcionar sua esposa Ana, e suas filhas.
Após recebê-las eu me despedi, e voltei para casa pensando em tudo o que o André havia me dito, eu sinceramente não queria estar na pele dele.
- Alessander Raker Stehling
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