Ontem, assisti a uma matéria que partiu meu coração. Era sobre pessoas vivendo em zonas de conflito armado no Rio de Janeiro. Uma criança disse: “Isso aqui não é vida, é tiroteio toda noite.” Já uma moradora desabafou: “Eu queria muito sair daqui, mas não tenho para onde ir.”
Fiquei pensando na minha infância. Tive o privilégio de morar em um bairro tranquilo em Contagem, Minas Gerais, até os 15 anos. Lembro de brincar na rua, jogar videogame com meu irmão e devorar gibis e livros, sem maiores preocupações. Foi uma infância relativamente pacífica — e sou profundamente grato por isso.
Mas nem todas as crianças têm a mesma sorte. Para muitas, a infância é marcada por medo, violência e incerteza, como a daquelas que vivem no meio de tiroteios. É difícil imaginar como seria crescer assim, sem a liberdade de brincar ou explorar o mundo sem preocupações.
Winnicott dizia que um ambiente seguro é a base para um desenvolvimento saudável. É verdade: crianças precisam de um espaço onde possam explorar, brincar e expressar sua criatividade. É no brincar que elas aprendem sobre o mundo, resolvem conflitos e desenvolvem habilidades motoras e emocionais. Mas, para brincar, elas precisam de segurança. Sem ela, o cérebro infantil, ainda em desenvolvimento, entra em um estado de alerta constante.
E o que acontece quando vivemos sob ameaça contínua? O corpo produz cortisol, o hormônio do estresse, que pode afetar a memória, o aprendizado, a saúde mental e até mesmo o crescimento físico. O medo constante mina a confiança básica que deveria ser construída nos primeiros anos de vida, e isso pode gerar adultos inseguros, ansiosos e com dificuldades para criar vínculos.
Ambientes inseguros não se limitam a zonas de guerra. Eles estão em casas onde um dos pais é alcoólatra, em famílias que brigam constantemente ou em bairros onde o som de tiros substitui o cantar dos passarinhos. Nessas condições, as crianças não conseguem se desenvolver plenamente, tornando-se adultos cheios de limitações — infelizmente.
Por outro lado, um ambiente tranquilo — como Russell sabiamente pontuou — é um terreno fértil para a alegria genuína. Quando há calma, o ser humano pode relaxar, sonhar, explorar o mundo e encontrar felicidade nas pequenas coisas, como brincar de pega-pega, ler um bom livro ou simplesmente estar presente.
Se você teve a sorte de crescer em um ambiente seguro, lembre-se de que nem todos tiveram a mesma oportunidade. Faça o que estiver ao seu alcance para ajudar, mesmo que seja apenas oferecendo uma escuta atenta. Às vezes, o simples ato de estar presente pode ser a diferença entre o desespero e a esperança.
E lembre-se: embora não possamos resolver todos os problemas do mundo, cada gesto de empatia tem o poder de transformar uma vida. E, no final das contas, isso é o que realmente importa.
— Alessander Raker Stehling
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