Em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas se reuniu em Paris, na França, para adotar a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (DUDH). Este documento histórico foi desenvolvido por um comitê composto por representantes de diferentes países e culturas, visando estabelecer padrões universais para a proteção dos direitos humanos.
O primeiro artigo da DUDH estabelece que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. Esses são direitos fundamentais que todos os seres humanos devem ter garantidos: liberdade, dignidade e justiça. Entretanto, muitos dirão que, “na prática a coisa não acontece desse jeito” e que muitos sofrem com a violação desses direitos, o que não deixa de ser verdade.
Podemos citar alguns problemas que impedem as pessoas de gozarem de seus direitos, tais como: desemprego, fome, falta de segurança, precariedade no acesso a tratamentos para a saúde mental e física, baixa renda e consequente endividamento, discriminação, violência e exclusão social, entre outros.
Como desgraça pouca é bobagem, o historiador Yuval Noah Harari (aquele mesmo do livro Homo Sapiens) previu no início deste ano que até 2050 surgirá uma nova classe entre nós seres humanos: a dos inúteis. “Como assim? Inúteis, mas já não tá cheio deles no congresso nacional?”, hahaha, não posso discordar de você, porém a análise que o historiador fez leva em conta outros elementos. Deixe-me te apresentá-los.
Esta previsão de Yuval Noah (pensa num nome exótico) é baseada em uma análise das mudanças tecnológicas e econômicas atuais que indicam a possibilidade de automação e digitalização de muitos empregos, o que poderia resultar em uma maior desigualdade e exclusão social. Embora a palavra “inútil” possa ser polêmica (gosto disso), Harari emprega esse termo para descrever pessoas cujos trabalhos e habilidades não são mais valorizados na sociedade moderna.
A inteligência artificial e outras tecnologias, cada vez mais presentes em nosso dia a dia, poderão assumir certas tarefas inerentes a algumas profissões. Dentre as profissões ameaçadas, podemos citar algumas: trabalhadores de linha de montagem, motoristas, advogados, designers gráficos, programadores, contadores e até médicos e enfermeiros (em menor escala).
Daí surge uma questão polêmica: se já temos dificuldades em garantir direitos básicos para todos os seres humanos, como lidaremos com o surgimento em massa de desempregados, pessoas com problemas de saúde mental, com o aumento da violência (que irá sem dúvida aumentar), etc.?
Yuval Noah propõe um sistema de renda básica universal e a utilização da realidade virtual para entreter as pessoas sem ocupação, que terão muito tempo livre, é verdade. Eu, curioso como sou, fui logo ler a opinião das pessoas, nos comentários do post. Algumas pessoas se manifestaram assim: “Esses energumenos já existem, e é culpa de muitos pais...”, “Já temos uma classe de inúteis "Enfluenciadores digitais”, “Já tem muita gente nessa condição.” O que percebi — além dos erros de português que saltam aos olhos — foi que a maioria focou no título da chamada: “Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis”, e não leu o artigo (algo bem comum na internet). Contudo, como falamos acima, o problema é grande e incontornável.
Veja como a coisa é grave: hoje temos 7,9 bilhões de pessoas no mundo e uma taxa de desemprego de 5,8%. Em 2050 a previsão é de 9,7 bilhões de pessoas no planeta e, somente no Brasil, especula-se que mais da metade dos trabalhadores deverão perder seus empregos para máquinas nos próximos 30 anos. A proporção corresponde a 35 milhões de trabalhadores formais, que devem perder seus empregos até 2050. É claro que muitos destes conseguirão se reinserir no mercado, mas não podemos negar que muitos não conseguirão e ficarão sem trabalho e renda.
Tente pensar em você, seu filho, ou alguém que você ama sem um centavo no bolso, isso é apavorante, não é mesmo. Porém, essa é uma possibilidade bem próxima para muitos de nós, pois 2050 tá logo aí. O que faremos?
Se tudo o que foi apresentado não ficou claro para você, peço que use sua imaginação para vislumbrar este possível cenário distópico: imagine que, em um futuro próximo, a situação se agravou. A previsão de Yuval Noah Harari concretizou-se e, de fato, surgiu a nova classe de pessoas inúteis. A automação e digitalização massiva de empregos deixou milhões de pessoas sem trabalho e renda, e a exclusão social se tornou ainda mais acentuada. A falta de acesso a direitos básicos, como saúde, renda e alimentação, piorou ainda mais a situação, e como consequência, os índices de violência dispararam. As tentativas de implementação de políticas públicas para mitigar os efeitos da crise não foram suficientes, e a sociedade entrou em colapso. A humanidade, em toda a sua história, chegou ao seu ponto mais baixo, e a esperança de um futuro melhor parece ter se esvaído para sempre.
Infelizmente, se cada um de nós não mobilizarmos nossa humanidade, esse cenário acima poderá se tornar realidade. Quão desesperador e triste isso seria.
“Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano — para sempre”. Trecho de “1984”, George Orwell
— Alessander Raker Stehling
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